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25 julho 2014

O PIOR CEGO É O QUE NÃO PODE (?) VER: RENATO PRADO - OGLOBO



Os piores cegos

 Uma das coisas mais desanimadoras do pós-Copa é ver, ler ou ouvir nossos técnicos falando sobre o que observaram nos jogos do Mundial. Praticamente todos garantem que não houve novidade tática alguma, que tudo que se passou em campo já acontece também no Brasil e, por isso, não há necessidade alguma de importamos treinadores estrangeiros. Impressionante!
É exatamente por causa dessa soberba, aliada a boas doses de ignorância que o nosso futebol se tornou essa mesmice medíocre que vemos em 90% dos jogos do Campeonato Brasileiro e acabou se refletindo até na seleção, goleada e humilhada pela Alemanha na semifinal.

Após acompanhar o Mundial como comentarista, Dunga disse, em sua entrevista de (re) apresentação que, exceção feita ao Chile, que escalava três atacantes, “todos os outros jogaram fechadinhos lá atrás, buscando sair em contra-ataques”.

Decididamente, não foi essa a Copa a que eu assisti. A Alemanha, campeã, e a Colômbia, que encantou até ser eliminada pelos brasileiros, nas quartas de final, são dois dos maiores exemplos de futebol ofensivo e bonito de se ver. E até seleções que pareciam ter um desenho tático mais defensivo, brilharam intensamente na frente: vide a Holanda, com o infernal Robben, auxiliado por Sneijder e Van Persie. Buscar o ataque foi a tônica da maioria das partidas, principalmente na fase de grupos, quando houve uma chuva de gols e duelos espetaculares, de tirar o fôlego.

Nossos “professores”, porém, parecem não ter notado nada disso. Novidades, como a linha de quatro zagueiros (sem laterais) de Joachim Low; ou o espetacular arqueiro Neuer jogando como líbero, quase na intermediária; ou a troca de goleiro feita por Van Gaal, somente para a decisão por pênaltis, foram encaradas com risos irônicos e comentários do tipo “isso já cansou de ser feito aqui”.

No retorno ao Flamengo, Vanderlei Luxemburgo reforçou tal coro:

— Na Copa, eu trabalhei e analisei o que tem de moderno. Nada. Nós elogiamos a Holanda, a Costa Rica, e nós abominamos o 3-5-2. Para mim, é retrógrado. Não vi nada de novo. O que necessitamos é a mudança estrutural do futebol brasileiro.

Os piores cegos são mesmo aqueles que não querem ver. E, infelizmente, a maioria dos nossos treinadores é assim. Por isso quase todas as nossas equipes jogam da mesma forma: com enormes espaços entre defesa, meio-campo e ataque; cheias de volantes que só fazem marcar (ninguém prestou atenção em Schweinsteiger, Khedira e Kroos?), usando e abusando das chamadas “faltas táticas” (algo que, exceção feita ao time de Felipão, pouco se viu na Copa) e acreditando piamente que chutão pra frente é lançamento em profundidade e chuveirinho a esmo, jogada de linha de fundo.

Como se vê, são pouquíssimas as chances de algo mudar. Aquele futebol brasileiro encantador pelo toque de bola e por valorizar mais o talento que a força bruta parece esquecido entre os tupiniquins. Ironicamente, foi inspirado nele que a Espanha reinou absoluta por seis anos e a Alemanha inicia agora uma nova era com um estilo semelhante.

Mas nossos treinadores ainda não perceberam nada. Nem mesmo o triste fato de que nós passamos a jogar como os antigos europeus “cadeira dura” (e tome de bola alta sobre a área) e eles ganharam molejo, passando a nos dar autênticos bailes, como aconteceu na semifinal diante dos alemães e na disputa do terceiro lugar contra os holandeses.

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