Luis Fernando Verissimo
No Brasil se pretende fazer o contrário e limitar o que até agora era ilimitado. A decisão a favor da "Citizens United" está sendo considerada nos Estados Unidos uma revolução nas regras eleitorais cujo resultado óbvio será multiplicar o poder do dinheiro influenciar a política. No Brasil, se a ideia pegar, ela será histórica no sentido oposto. Claro que a simples existência de uma lei para controlar a influência do dinheiro na política não vai impedir que ela continue. Estamos, afinal, no país do dá-se um jeito. Mas só coibir e criminalizar a farra já será um progresso.
A questão maior por trás de todas as lambanças sendo investigadas atualmente é a do financiamento de partidos e campanhas. Enfrentá-la não será fácil. Os maiores interessados em que não vingue uma reforma eleitoral são os que têm acesso aos bolsos mais fundos da nação, e têm mais a oferecer na defesa dos interesses dos maiores pagadores. Na fila das reformas necessárias, depois da reforma política emperrada, deve vir a reforma eleitoral. Não se sabe em que Congresso, se sobrar algum Congresso depois deste vendaval, ela será discutida. Mas apesar da previsível oposição, pelo menos se estará discutindo a questão. Com incontáveis anos de atraso.
Se vier uma reforma eleitoral teremos a satisfação, boba, mas bem-vinda, de termos feito uma revolução que, pelo menos desta vez, não imitou uma americana, antes a melhorou.
Os tempos. Li que o Maluf se declarou escandalizado com o envolvimento do seu partido, o PP, no propinato. Desconfio que no futuro lembraremos deste tempo como aquele em que a coisa chegou a tal ponto que escandalizou o Maluf. E as gerações ainda por vir se espantarão.
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