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20 março 2015

MERVAL PEREIRA /// O GLOBO



 A presidente Dilma está pagando para ver com a decisão de não fazer a reforma ministerial que a parte mais forte do PT, com o ex-presidente Lula à frente, está exigindo nos bastidores. Tirar Aloizio Mercadante do Gabinete Civil e Pepe Vargas da articulação política é o sonho de consumo desse grupo, para incluir o PMDB no núcleo duro de poder.
Mas nem Dilma nem o PMDB querem, por motivos diferentes. A presidente aparentemente se sente mais segura tendo Mercadante a seu lado do que Jacques Wagner, que seria o substituto ideal para Lula. Parece que a ela bastaram os quatro anos em que teve em sua cola Gilberto Carvalho na Secretaria-Geral da Presidência, um homem de Lula no Palácio do Planalto.


E o PMDB neste momento se sente obrigado a anunciar que não quer o ministério da Educação, depois de Cid Gomes ter dito com todas as letras que o motivo do desentendimento com o partido era a divisão de cargos, e não um sentimento de repulsa pretextado pela Câmara.
Para mostrar ainda mais seu despreendimento, o PMDB, pasmem, passou a defender a redução dos ministérios, de 39 para 20. Como Dilma disse que vai escolher o substituto de Cid Gomes fora dos partidos, temos então no meio da crise duas decisões corretas por motivações tortuosas.
A redução dos ministérios seria uma decisão de ampla repercussão positiva para o governo, pois não apenas estaria reduzindo seus gastos como tornando a máquina governamental mais ligeira, sem tantos compromissos partidários.
E se a escolha do ministro da Educação da “pátria educadora” for feita em bases técnicas, e não partidárias, estaríamos vendo pela primeira vez na formação desse ministério uma escolha voltada para um projeto de Estado, e não uma ação entre partidos aliados onde cada um tem direito a seu quinhão.
É bom lembrar que a escolha de Cid Gomes foi feita quase à sua revelia, que resistiu muito em aceitar a tarefa. Não havia nenhuma motivação razoável para colocá-lo onde estava, e parece que a Educação foi a pasta que sobrou para gratificar um aliado de primeira hora.
O paradoxo ficou maior ainda quando a presidente Dilma anunciou em seu discurso de posse um segredo que guardara de todos durante a campanha: o slogan de seu governo seria “pátria educadora”. Imagino que o próprio Cid Gomes tenha ficado


assustado com tamanha responsabilidade, sem verbas e sem projetos, e a partir daí tenha procurado um jeito de abrir mão desse abacaxi, ainda mais quando o governo começou a se desmanchar.
Não acredito que tenha sido premeditada a declaração sobre a existência de 300 ou 400 achacadores na Câmara. Como seu irmão Ciro, o ex-ministro da Educação tem a língua solta e fala o que pensa, sem prestar atenção ao estrago político que possa causar.
Aliás, Ciro Gomes, indagado por um jornalista o que seu irmão deveria fazer quando fosse ao Congresso, receitou: “Repetir tudo o que disse e sair de lá com a cabeça levantada”. Retrucado pelo repórter sobre se essa atitude não prejudicaria a relação da presidente Dilma com o Congresso, deu de ombros: “Não sei, nem me importa”.
Foi o que o irmão mais velho fez, no mais puro estilo da família Gomes, que agora se qualifica para surgir como exemplo dos que enfrentam o Congresso de “achacadores”. Provavelmente o arroubo do ex-ministro acabou lhe dando a chance de deixar o barco governista em situação favorável perante a opinião pública.
Mantidas as posições, quem fica nas mãos do PMDB é a presidente Dilma, que se distancia de seu mentor Lula e da parte mais ativa do PT, sem poder se livrar do peso do petrolão

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