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15 abril 2015

EVANDRO MILET /// O GLOBO

A ansiedade das ruas

Tudo bem que as coisas poderiam ser mais rápidas, mas não existem atalhos. Os avanços vão continuar com mais educação, mais informação e mais eleição ( e mais prisão)
Quem assistiu Lincoln, filme que deu a Daniel Day-Lewis o Oscar de melhor ator em 2013, viu a cena onde o Presidente aceita comprar o voto de parlamentares para aprovar a 13ª emenda que aboliu a escravatura. Da mesma forma, as cenas de filmes de Al Capone na década de 1930 apresentam o ambiente corrupto envolvendo sindicatos, polícia e políticos. Aos poucos a sociedade norte-americana foi construindo barreiras a estes procedimentos e hoje a SEC e a justiça americana policiam corrupção no mundo e forçam bancos suíços a abrirem mão do sigilo das contas secretas. Mesmo assim furos permanecem no sistema, seja na esquisita votação de Bush na Florida vencendo Al Gore ou na colocação em 17º lugar no ranking de corrupção da Transparência Internacional em 2014.(Brasil em 69º).
Esses exemplos servem para mostrar que os problemas brasileiros também não vão se resolver de uma hora para a outra. Até a década de 1960, pelo menos, a entrada no serviço público era por pistolão(há quanto tempo você não ouve essa palavra?). A partir da constituição de 1988 as brechas foram fechadas e os concursos públicos proliferaram sem grandes notícias de maracutaias. Antigamente os processos licitatórios eram bem frouxos. Empresas eram escolhidas sabe-se lá como. Hoje você pode reclamar de armações em licitações mas, sem dúvida, está muito mais difícil. Talvez a sensação de quantidade maior de corrupção tenha a ver com o tamanho do bolo que circula na economia brasileira, na liberdade de imprensa, na atuação do Ministério Público e da Polícia Federal e na estrutura criminosa inédita organizada para financiar partidos políticos. Quem viveu as crises políticas do Brasil no século XX, o golpismo latente, a ameaça e depois a intervenção militar e conviveu com a fragilidade das instituições, percebe uma mudança para melhor, apesar das reclamações. Mesmo a lembrança nostálgica de políticos gabaritados, debates relevantes e um Congresso de mais alto nível se explica porque antigamente apenas a elite era eleita. O Congresso era ocupado por advogados, médicos, economistas, engenheiros e empresários. Hoje a sociedade se pluralizou e elege sindicalistas, jogadores de futebol, artistas, pastores, radialistas e funcionários públicos. E é bom que seja assim. O Congresso acaba sendo a cara do país e vai melhorar à medida que o país melhore. O delírio de um conselho de anciãos incorruptíveis ou um governo militar saneador não se sustenta na história.Da mesma forma, a opinião nostálgica de quem estudou em escola pública de alto nível e acha que tudo piorou não se justifica totalmente. Antigamente apenas a elite frequentava graciosamente ótimas escolas públicas. Quando a educação se popularizou, os governos não conseguiram priorizar o setor, no que se considera a maior falha do processo político brasileiro, e a qualidade caiu. Menos mal que a quase totalidade das crianças está hoje na escola.Tudo bem que as coisas poderiam ser mais rápidas, mas não existem atalhos. Os avanços vão continuar com mais educação, mais informação e mais eleição ( e mais prisão).  E boca no trombone.
Avenida Paulista tomada por manifestantes, 12/04/2015 (Foto: Divulgação)Avenida Paulista tomada por manifestantes, 12/04/2015 (Foto: Divulgação)
Evandro Milet é consultor e palestrante, bacharel em matemática(UnB), mestre em informática(PUC/RJ) e pós-graduado em administração pública(FGV/RJ), foi executivo em instituições públicas e privadas.

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