10 julho 2011

Uma pergunta de um jornalista espanhol em El País pertinente!


A pergunta é do jornalista espanhol Juan Arias em artigo para o El País,
O jornalista é o correspondente do jornal espanhol no Brasil.
A tradução é do Cepat.

Eis o artigo:

O fato de que em apenas seis meses de governo, a presidenta Dilma Rousseff
tenha que ter demitido dois de seus principais ministros herdados do
governo antecessor Lula da Silva (Antonio Palocci da Casa Civil, uma
espécie de primeiro ministro e o dos Transportes, Alfredo Nascimento), ambos
demitidos sob os escombros da corrupção política, coloca aos sociólogos a
pergunta do porque nesse país, onde a impunidade está por detrás da ideia
de que “todos são ladrões” e de que “ninguém vai para a cadeia” não exista
o fenômeno, hoje em voga em todo o mundo, do movimento dos indignados.

Por que os brasileiros não reagem frente à hipocrisia e a falta de ética
de muitos governantes? Por que não lhes incomoda que políticos que os
representam, no governo, Congresso, nos estados ou nos municípios roubem
descaradamente dinheiro público? É a pergunta que fazem muitos analistas e
blogueiros políticos.

Nem sequer os jovens, trabalhadores ou estudantes têm manifestado até
agora a mínima reação frente à corrupção dos que lhes governam.
Curiosamente, a mais irritada diante do assalto aos cofres públicos por
parte dos políticos, parece ser a primeira presidenta mulher, a
ex-guerrilheira Dilma Rousseff, que tem demonstrado públicamente seu
desgosto pelo “descontrole” em curso em áreas do seu governo. A mandatária
já retirou do seu governo – e disse que ainda não acabou a limpeza – dois
ministros chaves, com o agravante de que eram herdeiros do seu antecessor,
o popular Lula da Silva, que lhe pediu que os mantivésse em seu governo.

Hoje, a imprensa diz que Dilma começou a desfazer-se de certa “herança
maldita” de hábitos de corrupção do passado. E as pessoas das ruas porque
não fazem eco, ressuscitando aqui também o movimento dos indignados?

Porque não se mobilizam em redes sociais? O Brasil, depois da ditatura
militar, se encontrou nas ruas com o Movimento das “Diretas Já” para pedir
a volta das urnas, símbolo da democracia. Também foi para as ruas para
obrigar o ex-presidente Collor a deixar o seu cargo diante das acusações
de corrupção que pesavam sobre ele. Mas hoje, o país está mudo diante da
corrupção em curso. As únicas causas capazes de levar as pessoas às ruas
são os homossexuais, os seguidores das igrejas evangélicas e os que pedem
a liberação da maconha.

Será que os jovens não têm motivos para exigir um Brasil não apenas cada
dia mais rico (ou menos pobre), mais desenvolvido, com maior força
internacional, mas também menos corrupto em suas esferas políticas, mais
justo, menos desigual, onde um vereador não ganhe mais do que dez vezes o
que ganha um professor, ou um deputado cem vezes mais do que ganha o
cidadão comum depois de 30 anos de trabalho, e se aposenta com apenas R$
650,00 enquanto um funcionário público com 8 anos de trabalho ganha até 30 mil reais?

O Brasil será logo a sexta maior potência econômica do mundo, mas no
momento segue na rabeira em matéria de desigualdade social e na defesa dos
direitos humanos. Um país que não permite o aborto, e a polícia é uma das
mais violentas do mundo.

Há quem atribua a apatia dos jovens ao fato de uma propaganda exitosa que
lhes convenceu de que o Brasil é hoje invejado por meio mundo. Que a saída
da pobreza de 30 milhões de pessoas os fez acreditar que tudo vai bem, sem
compreender que um cidadão de classe média europeu equivale ainda a um
rico daqui.

Outros atribuem ao fato de que os brasileiros são pessoas pacíficas, pouco
dadas a protestos, que gostam de viver felizes com o que têm e que
trabalham para viver em vez de viver para trabalhar. Tudo isso é também
certo, mas não explica ainda, porque, num mundo globalizado onde se
conhece o instante de tudo o que acontece no planeta começando pelos
movimentos de protesto de milhões de jovens que pedem democracia ou a
acusam de estar degenerada, os brasileiros não lutem para que o país, para
além de ser rico, também seja mais justo, menos corrupto, mais igualitário
e menos violento em todos os níveis.

Assim é o Brasil que os honestos sonham para os seus filhos, um país onde
as pessoas não perdem o gosto de desfrutar do pouco ou muito que tem e que
seria ainda melhor se surgisse um movimento de indignados, capaz de
limpá-los das escórias de corrupção que golpeam todas as esferas de poder.

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