LUIZ FERNANDO PANICO É UM MÉDICO QUE PROCURA RETRATAR EM SUAS CRÔNICAS TODO O INFERNO ASTRAL EM QUE NOSSA CLASSE VIVE, MERCÊ DA INSENSIBILIDADE DE NOSSOS GOVERNANTES E ADMINISTRADORES, SEM FALAR DOS POLÍTICOS, AUSENTES. (É a sua primeira visita a esta CASA e esperamos recebe-lo mais vezes...)
Os suspeitos
Já passava das oito horas da manhã de um domingo de verão, o sol já mostrava a sua força. Durante o percurso para o aeroporto perdi a tranqüilidade quando comecei a pensar como iria explicar a Nikita, um colega com quem fiz amizade numa viagem recente à Rússia, a presença de numerosas favelas e o precário atendimento dos hospitais públicos.
Ao me abraçar, ele externou o desejo, tão logo possível, de conhecer a cidade “maravilhosa”. Nas visitas aos pontos turísticos, ele se mostrava feliz com a hospitalidade de nosso povo, mas, em certo momento, revelou o desejo de conhecer um serviço médico. Tão logo foi possível, entrei em contacto com um colega, que ocupava o cargo na direção de uma Entidade Hospitalar localizada no centro da cidade, e no dia seguinte, ao percorrer as dependências de uma Maternidade pública, ele me fez uma pergunta até certo esperada:
- Panico, quantos funcionários trabalham aqui?
- Aproximadamente mil e duzentos, entre médicos, para-médicos e outras categorias.
- Este hospital é próprio do Governo?
- A que me consta, sim.
- Como são feitos os serviços de manutenção?
- O Governo contrata firmas, cujos funcionários passam a prestar serviços à União.
- O corpo médico e atividades correlatas são também terceirizados?
- Não. Com estes, o Governo assume o vínculo empregatício. Eles têm estabilidade funcional, mas nenhuma ajuda no campo da pesquisa.
- Ela maternidade funciona como Maternidade Escola?
- Que eu saiba, não.
- O salário dos médicos é justo?
- Deixa a desejar. A grande maioria dos nossos colegas precisa ter mais de um emprego para que possa subsistir.
- E os outros servidores?
- Menos ainda. Os funcionários federais não recebem aumento há mais de seis anos.
- Isto me parece preocupante.
- Os servidores sentem-se cada vez mais desestimulados a realizar suas atividades.
- A quem interessa esse tipo de serviço suspeito?
- Como você bem disse, aos próprios suspeitos.
- Mas há algo que prove que há suspeitos?
- Não. Só suspeitos.
- E como estão esses suspeitos?
- Muito bem!
- Como?
- Cada um ganhando o seu...Com segurança...Sem cobrança...
- E as autoridades?
- Que autoridades?
- Os superiores!
- Ah! Os superiores...Estão muito bem. Exercem o poder de mando, sentem-se envaidecidos...
- E seus salários?
- Pouca m... a mais. Os chefes vivem com as suas vaidades...Isto alimenta o seu “ego”.
- Você acha que isto tem sentido?
- Penso que não.
- Inacreditável!
- O quê?
- Como funciona essa loucura. A população mal servida não reclama?
- Como reclama!
- E o Governo?
- Se faz de surdo.
- Por quê?
- Por que os “superiores dos superiores” têm coisas mais importantes a resolver do que a saúde do povo.
- O quê, por exemplo?
- Os escândalos do PROER, a corrupção administrativa, as CPIs do futebol....
- O que é PROER?
- Segundo alguns críticos, é uma jogada para “salvar” bancos e banqueiros.
- E a saúde do povo?
- Fica para depois.
- Depois, quando?
- Quando não houver mais suspeitos.
Luiz Fernando Panico
Ginecologista-Obstetra.
Feliz 2015 ! Com certeza será vc escrevendo suas cronicas. e eu ,claro, as lendo! FELIZ 2015!
ResponderExcluirSerá sempre boa a sua visita..Feliz 2015 pra nós...
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