Já usei muito o bonde nesta cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Lembro-me que acima do espaço reservado ao condutor, de frente para nós passageiros, havia sempre um painel publicitário: ou era o das Casas Mattos com várias figuras brejeiras aportuguesadas ou a de um xarope, com a clássica figura de um homem amordaçado e a frase: “Larga-me! Deixa-me tossir!”.
E não esquecer do velho anúncio:
“vide ilustre passageiro
o belo tipo faceiro
que o senhor tem a seu lado
no entanto acredite
quase morreu de bronquite
salvou-o o Rhum Creosotado”
A figura do cobrador me fascinava: o homem, de uniforme azul marinho, um ágil equilibrista sempre – nunca poderia ser um camarada obeso como certos guardas de policiamento de rua, que ainda os temos - um quepe sobre as orelhas, suado, passando com jeito por detrás das pessoas que viajavam nos estribos, cobrando as passagens e também as das pessoas que viajavam sentadas, fazendo o troco, puxando aquela cordinha que tilintava marcando cada passagem...tlim!tlim!tlim!
O ruído hipnótico das rodas nos trilhos, as curvas para um lado e outro, o tinir da campainha – era outra cordinha - que os passageiros acionavam para avisar que desejavam saltar, o tagarelar das pessoas a bordo...Eram tempos mais descontraídos, mais alegres, não havia estas hordas de pivetes, não havia esta vigilância ferrenha de bolsas e pacotes. O Rio era mais paz, era mais cidade, era mais vida.
Conviviam, os bondes, com os ônibus e os carros da época – nem eram tantos e de tantas marcas assim como hoje, – num trânsito em geral fluente e calmo. Havia, em cada acesso aos bancos de madeira, do lado aberto e do fechado, cortinas plásticas transparentes de enrolar, para o caso de chuvas. Estes bancos funcionavam graças a engrenagens simples, podendo ser colocados virados para a frente ou para trás. Eu gostava muito de viajar neles à noite, iam mais vazios, o transito fluía ainda melhor, as distâncias ficavam mais curtas.
Que saudades dos velhos bondes...
Quando os bondes foram retirados, procedeu-se ao recapeamento asfáltico...O certo seria a retirada dos trilhos e proceder a um serviço limpo. Mas não; como sempre, houve algum tipo de safadeza – Meu Deus e quantas houve nestes anos todos! – e simplesmente despejou-se o asfalto por cima dos trilhos. Não é preciso ser um Julio Verne para adivinhar a lambança que isto causou na medida em que as derrapagens se sucediam e pior, os cortes dos pneus, principalmente dos automóveis.
Em Portugal há muitos desses bondes ...
ResponderExcluirPS - Reparei ainda não é meu seguidor dos meus 5 blog's ... eu terei muito gosto ser teu seguidor, me aguarda, tá?...!