VOLTAR NÃO É PRECISO
Eu gostaria neste momento de voltar,
simplesmente voltar,
arrebatadoramente voltar,
como o barco retorna ao porto,
partindo as águas da separação.
Voltar, sentindo irrecusavelmente
o gosto do abraço, das mãos
que me envolvessem, de amigos,
como se não mais me quisessem largar,
ostras novas agarradas ao rochedo
deste meu coração.
E todas as lágrimas choradas(?)
em silencio
nesta separação
seriam gotas deste mar singrado
e fariam um manto
para coroar esta volta.
Sim, mas eu gostaria de voltar,
como que para romper
este silêncio que me matava
aos poucos,
esta distancia que me dilacerava aos poucos,
esta saudade
do que já nem me lembro mais.
Voltar na fantasia de que não sou mais passado,
embora saiba que esta cicatrização
possa ser talvez
a minha última e merecida chance
de esquecer e ser esquecido.
E que a volta deste barco seja
a última atracação, sem mais partidas,
numa cristalização paralisada,
sem outras viagens que as do espírito
sem querer mais outro porto,
outra atracação. Basta!
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