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28 janeiro 2011

Saudades sempre na ótica de criança.... (SRebouças)


SAUDADES
(Na ótica de uma sempre criança)

Saudades daquele tempo em que tínhamos família: sabe, aquele monte de gente que invadia nossa casa nas festas de Natal, e quantas delas nós, à época, até detestávamos que viessem...
Mas eram o nosso sangue, tudo então era obrigatoriamente suportável...
Haviam os parentes exagerados, que falavam alto e superlatavam tudo o que contassem; haviam os quietos, reflexivos, quase sacerdotais: ou eram tímidos, ou eram mal humorados, ou ambos...
Haviam os antecessores do beijoqueiro, lambiam cada rosto que encontrassem, com uma pausa maior nos rostinhos femininos, é claro.
Haviam os eternos atrasados, nunca chegavam na hora combinada.
Haviam os comilões, que espreitavam perto da porta da cozinha, ou a invadiam, ou abordavam as travessas cobertas com panos que dali saiam rumo aos outros convidados...
Haviam os loroteiros, que mentiam descaradamente, contando vantagens ou deformando fatos, aliás sabidos de todos.
Havia quem não fosse para não encontrar com sicrano ou fulana, brigados que estavam, e acabava que, como nenhuma das partes comparecia, todos eles perdiam a festança....
Havia gente – principalmente na festa do Natal, que já chegava anunciando que “ainda tinha de ir a três ou quatro lugares...era só uma passadinha rápida!”
Havia até gente capaz de vir com as mãos abanando e se amaldiçoando pelo seu “esquecimento”...
Havia gente que se amontoava a um canto conversando, mais parecendo um bando de ovelhas – mas sempre sobressaía aquele que era dotado de grande histrionismo, falava alto, contava anedotas, era envolvente por natureza...a gente ficava calada, só escutando, fascinada e não via o tempo passar.
Havia gente que a gente só via praticamente nos enterros, batizados, casamentos e talvez alguns aniversários, a tal ponto que muitas vezes nem sabíamos direito seus nomes e o grau de parentesco...
Havia gente, aquela nossa parentada, com os seus característicos pessoais, que nos ficaram na lembrança – assim como os nossos amigos, estes tantas vezes mais parentes do que amigos.

Havia.

É tanta a saudade que sinto daquela gente, daqueles tempos, que o peito dói, e dói desconsoladamente. Pouca gente ficou, neste mundo cada vez mais povoado. Uma contradição aqui?...
Não, absolutamente: eu disse gente. Gente de verdade, não convencionais só, ou robôs.
Afinal, os tempos se abrem à nossa frente, e as pessoas?... Fecham-se cada vez mais...

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