A Praça estremecia com a zoada da populaça
Clarins chamavam, toureiros desfilavam garbosos
acenando os chapéus para a multidão
Havia um cheiro de sangue no ar, de adrenalina,
de paixão e de enorme expectativa,
chamando a Morte ainda mais uma vez.
Naquela areia muitos animais feridos cairam
e mortos eram arrastados pudicamento dos olhos da plateia
por cavalos e correntes ensanguentados: VITÓRIA!
Aquele touro, encerrado na escuridão, aguardava.
De súbito e com estrépito abriram-se as portas
e a luz deixou o touro momentâneamente cego.
Os brados elevados em altíssimos decibéis
saudavam a sua entrada naquele ambiente.
Areia e gente enlouquecida, o touro caminhou
para o centro da arena, querendo achar uma área de menos ruído
mas seu intento foi em vão: cavaleiros e infantes
desfilaram altaneiros sob a ovação geral.
Soavam as trombetas estilhaçando os ares.
De repente uma figura em rosa e preto
com um pano vermelho nas mãos caminhou para o touro.
Que parado, bufando, estudava aquela figura.
Como aquela graça de dansar com o pano vermelho
irritava o touro, insultava os seus testículos machos, o incitava
a arrancar aquele pano das mão daquele ridículo espantalho...
E investiu, uma, duas, dez vezes mas as esquivas e uma ardência no lombo
tantas vezes repetida, faziam a sua frutração, ouvindo os olés da multidão.
A figura de rosa e preto, agora sem chapéu, avançava bailando
e a capa agora estava mais reta, como se escondesse algo
que o touro não sabia ser a sua Morte: era só aquele pano vermelho.
O touro agora cansado, sangrando, com aquelas coisas dependuradas no lombo,
- e um cavalo vestido de colchões vinha a toda hora ao seu encontro.
Súbito um silêncio mortal se fez na platéia: era chegada a hora.
O toureiro fazia uma pose longitudinal como se fora um bailarino
e o touro reuniu as suas forças derradeiras e investiu.
Mais uma vez a tal capa vermelha se lhe fugiu
Uma dor fina penetrou atraz de sua cabeça, a queda lenta ao chão,
e a última coisa que ele ouviu foi a unanimidade enlouquecida da multidão.
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