QUINQUILHARIAS + SENECTUDE = LIXO?

A gente passa a vida acumulando quinquilharias. Caras e baratas, grandes ou pequenas, mas quinquilharias.

E temos por elas um amor tão ilimitado quanto inútil, na medida em que passamos nesta vida, às vezes, por condições extremas de saúde e apreensão e somos levados de táxi ou ambulância a um hospital, e eis que aquelas peças nem se dignam, à maneira dos gatos, estes seres frios e  independentes por quem muita gente se apaixona, a lançar-nos um olhar sem curiosidade ou solidariedade...
E quando retornamos à casa, nenhuma delas se manifesta, se digna a nos dar a mínima atenção.No entanto, continuamos a guarda-las, mesmo que lhes reconheçamos a inutilidade. Somos-lhes fieis, não questionamos o lugar que ocupam na tralha geral, somos silenciosos e devotados co-moradores deles.
Temos uma grande dificuldade em despejá-las de seu 'dolce farniente'. Não! é ficar por ali, tudo bem.
Mesmo quando atingimos a velhice - esta condição que juro ter lido e ouvido que é a fase da glória e do divinal - (!!!) sentimos uma grande dificuldade em desembaraçarmo-nos de quaisquer destas peças. Até temos ainda mais dificuldade em fazer qualquer faxina. Mas quando a arteriosclerose vence a guerra contra a nossa miserável e astuciosa gula, e a senilidade se instala, cuidado! Senis rasgam qualquer coisa, documentos importantes os mais variados, peças  de valor são atiradas ao lixo sem que alguém por perto possa impedir, joias, sapatos e roupas, utilidades ainda em perfeito estado de conservação...Meu avô atirou pela lixeira do prédio em que morava um relógio de mesa, carrilhão lindo que encantou minha infância quando moramos juntos...após a morte da minha avó.
Materialismo e senectude não combinam, eis a verdade.