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06 agosto 2012

ME ENCANTE... Pablo Neruda




ME ENCANTE...

Me encante da maneira que você quiser, como você souber.
Me encante, para que eu possa me dar...
Me encante nos mínimos detalhes.
Saiba me sorrir: aquele sorriso malicioso,
Gostoso, inocente e carente.
Me encante com suas mãos,
Gesticule quando for preciso.
Me toque, quero correr esse risco.
Me acarinhe se quiser...
Vou fingir que não entendo,
Que nem queria esse momento.
Me encante com seus olhos...
Me olhe profundo, mas só por um segundo.
Depois desvie o seu olhar.
Como se o meu olhar,
Não tivesse conseguido te encantar...
E então, volte a me fitar.
Tão profundamente, que eu fique perdido.
Sem saber o que falar...
Me encante com suas palavras...
Me fale dos seus sonhos, dos seus prazeres.
Me conte segredos, sem medos,
E depois me diga o quanto te encantei.
Me encante com serenidade...
Mas não se esqueça também,
Que tem que ser com simplicidade,
Não pode haver maldade.
Me encante com uma certa calma,
Sem pressa. Tente entender a minha alma.
Me encante como você fez com o seu primeiro namorado...
Sem subterfúgios, sem cálculos, sem dúvidas, com certeza.
Me encante na calada da madrugada,
Na luz do sol ou embaixo da chuva....
Me encante sem dizer nada, ou até dizendo tudo.
Sorrindo ou chorando. Triste ou alegre...
Mas, me encante de verdade, com vontade...
Que depois, eu te confesso que me apaixonei
E prometo te encantar por todos os dias...
Pelo resto das nossas vidas!!!
                                                                                                             Pablo Neruda

4 comentários:

  1. Ah, grande Pablo Neruda! Sempre o amei até à exaustão!
    Sabes uma coisa? Ando a escrever sobre as ruas da minha freguesia, toda, imagina! São muitas. Já escrevi quase 100 páginas só a falar de 5 ruas. Falo de tudo: das pessoas, das minhas relações com elas, do passado e do presente. Falo à minha maneira. Nada taxativo! Sobre um rapaz que morreu aos 35 anos, em 1997, portanto, escrevi algo de que gostei muito. Fala em Pablo Neruda. É por isso que vou transcrever para aqui um excerto.
    Segue a seguir.
    É grande! Terás paciência?

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  2. A metáfora existe e é feita com os pedais de uma bicicleta que não tem travões. Um dia é que foi o delas. O Tozé veio, com a sua bicicleta, dar uma volta pela rua do Areeiro abaixo. A Maria da Luz estava cá, de férias, e estava à beirinha da estrada com a Amparinho, irmã mais nova da Lurdinhas. Como o Tozé embalou, não foi capaz de segurar a bicicleta. Há uma parte da rua que é a descer. Era aí que a Maria da Luz estava com a Amparinho, à porta da casa da Florinda. Foi Maria da Luz, foi Amparinho, foi tudo pela frente, pelo ímpeto de uma guinada, um tudo de nada para a direita. Mas foi o suficiente para o Tozé levar uma carga de porrada da mãe dele.
    Algures, em casa da Belinha, está uma foto do Tozé que a Zaida lhe tiro, creio que para um concurso. Nunca cheguei a saber se ela concorreu ou não. Na foto, o Tozé está sentada no chão, à porta de casa, descalço, calças dobradas até aos joelhos, camisete alaranjada, de nylon, as duas mãos a fazerem força na gola, a puxá-la para baixo. Expressão de abandono a fixar-nos pela vida fora. A metáfora existe e salta da tela, ganha raízes no céu pejado de estrelas. Era rente à noite que o Tozé, mais conhecido por Estica Bombas , me ia visitar ao quarto. Tinha para aí dozes anos e ia vestido com a mesma roupa da fotografia. Sentava-se na borda da minha cama e acariciava-me os braços em movimento lentos e silenciosos. Depois, ia-se embora, tal como tinha entrado. O crescente de lua já se avistava, nítido, no horizonte.
    A minha irmã também me contou que o Tozé gostava de espreitar. Quando ela se debruçava no parapeito da janela para a limpar, o Tozé dirigia olhares furtivos para o decote dela. Coisas do Tozé! Nisso, não era muito diferente do Vítor. Só era mais selectivo. “Fruta do Chão”, nunca!
    O Tozé foi-se fazendo grande em todos os sentidos: estudou, tirou um curso, arranjou um emprego no Batista Russo, encontrou a Cláudia, uma jovem de dezassete anos, ia namorar com ela para o quarto e ficou por ali. A Cláudia devia ter mesmo qualquer coisa de especial para conseguir captar o Tozé. Ainda pensei que tivesse sido por causa daqueles belíssimos caracóis que lhe emolduravam o rosto. Ela não era de muitas falas. Nunca foi! É por isso que me sobram os caracóis para fazer os meus juízos e qualquer coisa mais, verdade seja dita. Quem se mete com uma miúda daquela idade está sempre a contas com os pais. A coisa pia fina e os pais da Cláudia não eram nada para brincadeiras. O Tozé que tanta amava a diversão e as conquistas, assentou. Não sei se poderei pôr as coisas nestes termos só porque o Tozé casou com a Cláudia. Aconteceu! É só isto que tenho a dizer.
    CONTINUA

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  3. Conclusão

    "...Pouco depois de terem casado, a Cláudia ficou grávida. Tinha uma barriga enorme, o que não os impedia de irem para todo o lado. Foram ter connosco ao Algarve, levaram a Dina e a Ana a andar de “ gaivota” e eu cheia de medo que acontecesse alguma coisa. Divertiram-se à brava e não dei que alguma coisa estivesse mal com o Tozé ou com a Cláudia. Nem naquela época nem nas outras, antes da Cláudia ou depois da Cláudia. O Tozé era uma “ coisa” rara. Foi bom e ter partilhado connosco esse período da sua vida, até aquelas mijarradas que deu no “ Barba Azul, um café que existia perto da rua onde tínhamos a casa arrendada, em Armação de Pêra. Nessa noite, tinha ele saído com o Ilídio para meu alívio, pois andar pelos cafés como ele tanto gostava e ainda gosta, não é o meu forte e nisso o Tozé alinhava com todo o gosto!
    Há coisas que ficam para sempre. Se for ao quarto da Dina e ao meu, lá estão as prendas que ele nunca se esquecia de trazer para as “Garotas” . Era assim que ele tratava as minhas filhas. As bonecas de porcelana, bem como a boneca de trapos, estão na minha senhorinha. Há mais coisas… Não sei onde é que a Dina guardou o discman.
    Mas, no dia 11 de Junho de 1997, Pablo Neruda estava à sua espera. O Tozé tinha estado a almoçar com a Cláudia em casa da Sila e foram os dois, de carro, para o trabalho. A Cláudia é que ia a conduzir e deixou-o, a pé, do outro lado da estrada, em frente ao Batista Russo. O Tozé tinha que atravessar a estrada e fê-lo. A Cláudia arrancou e não deu por nada. O Tozé acabara de ser atropelado, ainda a Cláudia não devia ter chegado a Porto Moniz. Os pratos sujos, com os talheres, onde, minutos antes, tinham estado a comer, continuavam como se não tivesse acontecido nada. A vida seguiu o seu ritmo normal, menos para o Tozé. Só os que arriscam é que sabem escrever metáforas. Era por isso que Pablo Neruda queria ter uma conversa com o Tozé. Pablo Neruda era Deus e Deus já estava farto de gente que não sabe escrever metáforas com as vistas largas. O Tozé sempre teve as vistas largas, sempre arriscou e queria arriscar ainda mais. Partiu tudo da tal bicicleta que não tinha travões e que foi pela rua do Areeiro fora, descontrolada. Depois continuou com aquela história do Tozé a dizer ao Zé Manel que um almoço em cima de outro almoço fazia mal. Era quando o Zé Manel ia namorar com a Augusta. Pablo Neruda, que era Deus, achou graça e acenou com a cabeça, como quem diz:” Este é cá dos meus! E nunca mais se esqueceu do Tozé! Quando o viu perguntou-lhe: “conheces mais alguém que seja diferente e diga o que pense sem medo? “ “ Conheço! Um é o meu pai. O outro é o meu sogro!”
    Alguns anos depois, Pablo Neruda voltou a olhar o mar e a desembrulhar metáforas que se escrevem com loiça de barro remendada e com beatas de cigarros por pisar. Creio que ficou extremamente apreensivo.
    Mas…
    A Sara , a filha do Tozé e da Cláudia é a carinha do pai chapada! Quando Deus fecha uma porta, abre logo uma janela! É bem verdade! A Sara é a consumação da Metáfora que o Tozé não teve tempo de acabar...."

    ISTO É APENAS UM EXCERTO SOBRE ALGUÉM QUE JÁ VIVEU E JÁ MORREU! AS HISTÓRIAS DA MINHA RUA E DAS OUTRAS RUAS SÃO A MINHA MORADA.

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  4. Só mais isto! ESTOU A ABUSAR?
    DIZ-ME QUE EU PARO IMEDIATAMENTE!

    Abraços!

    E ficamos amigos na mesma!

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