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26 dezembro 2014

LUIZ GARCIA (O GLOBO)





Em nome da democracia

Como será tratada pelo Executivo a descoberta de que membros da classe política indicaram para funções públicas pessoas que não o mereciam? A resposta: nada a fazer

No sistema político que temos a honra e o prazer de usar há bastante tempo, presidentes da República nomeiam seus auxiliares como bem entendem.
Supõe-se que no afã patriótico de servir à República, ao país e — em terceiro lugar, é claro e indiscutível, ao partido e à sua modesta carreira — a escolha de ministros de Estado concentre-se em cidadãos de biografia de ficha ultralimpa. É de se supor que o chefe do governo, em benefício de sua própria ficha, procure cidadãos com o mesmo cuidado, digamos assim, que pais severos — nos velhos tempos que eles faziam isso — buscavam noivos para suas castas filhas.
Nossa atual presidente, possivelmente escaldada por experiências lamentáveis no primeiro mandato, acaba de anunciar uma extraordinária precaução: pretende submeter todos os candidatos a ministros de Estado ao crivo do Ministério Público. Tem razões para isso: autoridades federais estão no momento apurando um cabeludo escândalo de desvio de dinheiro da Petrobras para fins, digamos assim, particulares. Quem, na plateia, preferir falar mais grosso, pode se referir a uma ladroeira em larga escala.
Vamos reconhecer que, de Cabral até hoje, esse problema se manifestou mais de uma vez em nossas praias. Muito mais, se queremos ser sinceros.
Portanto, a possível fragilidade da atual administração certamente não é, digamos assim, original. Vamos reconhecer que já tivemos chefes de governo impecavelmente honestos. Assim como uns tantos que, além de puros, soltaram os cachorros em cima das bandalheiras de administradores e políticos.
Mas, parabéns para a chefe do governo: o crivo dos promotores pode funcionar — e ao mesmo tempo levar a um saudável desespero um bom número de nossos políticos.
A propósito, uma indagação: como será tratada pelo Executivo a descoberta de que membros da classe política indicaram para funções públicas pessoas que não o mereciam? A resposta é simples: nada a fazer. No Brasil — e em quase todo o mundo — não há castigo para isso. Em nome, claro, das liberdades democráticas.
Luiz Garcia é jornalista

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