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14 janeiro 2015

ELIO GASPARI (O GLOBO)

O comissariado irritou-se mais com Marta Suplicy do que com André Vargas, o amigo de Alberto Youssef

Na sua entrevista à repórter Eliane Cantanhêde, a senadora Marta Suplicy anunciou um desejo de início de ano: “O PT muda ou acaba". O PT não mudará, porque já mudou, para pior. Além disso, ela expôs algumas verdades:
— Em meados de 2013, articulou-se o sequestro da candidatura de Dilma Rousseff, substituindo-a pela de Lula. Nosso Guia deixou a manobra prosseguir, mas não pôs nela suas impressões digitais.
— O chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, é “candidatíssimo” a presidente. Um mau candidato, porque “as trapalhadas que ocorreram, que ocorrem agora, e que ocorrerão depois terão a digital dele".
Mesmo que a senadora estivesse errada em tudo o que disse, a reação do comissariado à sua entrevista mostrou que ela tem razão. “Um desastre total", disse o deputado Jorge Bittar (PT-RJ). A resposta mais esclarecedora veio do deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), um veterano sindicalista e, como Marta, fundador do partido: “Quem sai atirando tem que lembrar que pode ser alvejado".
Nessa frase está a indicação de que o PT não vai mudar, porque já mudou. Ribeiro repetiu o raciocínio de outro comissário, respondendo à sugestão do ex-governador gaúcho Olívio Dutra de que o deputado José Genoino renunciasse ao mandato: “Quando ele passou pelos problemas da CPI do Jogo do Bicho, teve a compreensão do conjunto do partido em um momento difícil, ele está sendo pouco compreensivo.”
Muita compreensão e pouca vontade de mudar, os problemas do PT são. O autor do ataque a Olívio foi o deputado André Vargas (PT-PR). Era membro da executiva nacional, começara sua militância como voluntário num asilo de idosos de Londrina e viria a ser o primeiro vice-presidente da Câmara. Fazia parte na turma do “partir pra cima". Dizia que o ministro Joaquim Barbosa não estava “à altura do cargo" e desafiou as boas maneiras quando, sentado ao lado do presidente do STF, ergueu o punho cerrado, repetindo o gesto dos comissários encaminhados à penitenciária da Papuda.
Vargas foi apanhado numa militância paralela, ligado ao operador financeiro Alberto Youssef. Em dez anos, seu patrimônio saltara de R$ 9 mil para R$ 2,6 milhões. Até dezembro do ano passado, quando seu mandato foi cassado pela Câmara, nenhum grão-petista disse de Vargas metade do que já se disse contra Marta Suplicy em poucos dias. Todas as articulações para afastar o PT das operações de Vargas foram discretas. Lula, mais audacioso, achou que ele precisava se explicar, para que o PT “não pague o pato". O próprio deputado Vicentinho (PT-SP), outro veterano sindicalista, dizia que a renúncia de Vargas era uma decisão que “cabe estritamente a ele". Falso, a decisão de expurgá-lo publicamente cabia ao PT, mas o partido não fizera isso com a bancada da Papuda. Vargas informava que tinha o apoio de um terço da bancada de 88 deputados petistas. Mesmo que tivesse só dez, o problema estaria aí.
Quando o deputado Devanir diz que “quem sai atirando tem que lembrar que pode ser alvejado" esquece-se de que há vida inteligente fora do PT. O comissariado sabe que o juiz Sérgio Moro está artilhado a montante das petrorroubalheiras e que as tentativas para alvejá-lo erraram a pontaria.
Elio Gaspari é jornalista
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