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04 fevereiro 2015

ELIANE CANTANHÊDE // ESTADÃO

Eliane Cantanhêde
A presidente Dilma Rousseff está remoendo duas grandes e perturbadoras derrotas nesta semana. Não bastasse ter se aventurado numa batalha inglória para impedir a eleição do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para a presidência da Câmara, Dilma agora foi obrigada a fazer o que teimosamente evitava: demitir Graça Foster da presidência da Petrobrás.


Eduardo Cunha, o que chega, é considerado com toda razão um "aliado inimigo" do Palácio do Planalto. Já Graça Foster, a que sai, é não apenas uma aliada, mas a amiga pessoal que foi uma aposta de Dilma para tentar tirar a Petrobrás do buraco. Dilma perdeu mais essa aposta. Agora, é uma questão de tempo.


Se a economia saiu do primeiro mandato aos frangalhos, a política entra no segundo um caos. Para remendar a economia, Dilma deu uma guinada na política e na equipe. Mas o que fazer na política?

Sobram voluntarismo e teimosia e faltam prudência e canja de galinha à mesa de decisões da presidente da República, que se expôs mais do que devia tanto ao bater de frente com o PMDB para tentar derrotar Cunha quanto ao insistir na permanência de Graça Foster na Petrobrás muito além do que o mercado, os aliados e o próprio padrinho Lula recomendavam.

No caso de Cunha, Dilma e seu time peladeiro do Planalto trabalharam a favor do peemedebista Renan Calheiros para a presidência do Senado e contra o também peemedebista Eduardo Cunha à da Câmara. Não foi por uma diferenciação ética, moral, porque não podem dizer que Cunha não é flor que se cheire e Renan, um santo. Então, foi por levarem em conta o fator "confiança". Renan é mais palatável ao Planalto porque é previsível. Cunha não.

No caso de Graça Foster, ela é a última peça que cai, junto com os diretores e o Conselho de Administração. Não sobra pedra sobre pedra. Dilma vai ter que reconstruir não só as refinarias superfaturadas, mas principalmente a credibilidade da Petrobrás. Não é uma tarefa fácil e o sucessor de Graça tem de vir de fora, com a disciplina da iniciativa privada, despojado de ideologias e distante de partidos.

Terá de ser um Joaquim Levy da Petrobrás, capaz de articular o que o Estado anunciou ontem (pág. B4) como "força-tarefa" para salvar a empresa, enquanto o governo, em Brasília, quebra a cabeça para criar o que já foi chamado aqui, nesta coluna, de "Proer" para salvar as empresas parceiras e igualmente encalacradas. O que está em jogo é o efeito devastador sobre toda a economia do País.

Por falar em jogo, o ministro Pepe Vargas tentou imitar, sem o mesmo talento, o estilo Lula de se vangloriar pelas vitórias e de driblar as derrotas. Segundo ele, o empenho do Planalto para derrotar Eduardo Cunha foi como uma pelada, com "carrinho, puxão de camiseta, de vez em quando uma canelada". Depois, continuou, "todo mundo senta e toma uma cervejinha".

A hora é de cervejinhas, mas, entre um gole e outro, Cunha já põe no centro do debate da Câmara o Orçamento Impositivo, já aprovado em primeiro turno. Hoje, as emendas parlamentares são aprovadas no Congresso e engavetadas no governo. Com a mudança, o governo só terá uma alternativa: liberar ou liberar as verbas.

Ou seja: Cunha não é mesmo confiável. E num momento em que a Petrobrás esfarela, pedidos de CPI rondam o Congresso e a discussão sobre impeachment consome a energia diletante de grandes juristas. Essas coisas tendem a dar em nada, mas são de grande valia em jogos que têm "carrinho, puxão de camiseta e, de vez em quando, até canelada".

O campeonato está só começando.

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