O Brasil é o país dos segredos de domínio público, os tais segredos de polichinelo. O da vez foi “revelado” pelo ex-presidente do Uruguai, José Mujica, a quem Lula confessou, em 2010, não apenas saber do Mensalão, mas de tê-lo promovido e sustentado, por entender que “não há outro modo de governar o Brasil”.
O depoimento está no recém-lançado livro “Uma Ovelha Negra no Poder”, em que Mujica conta a dois jornalistas amigos, Andrés Danza e Ernesto Tulbovitz, sua passagem pela presidência do Uruguai. Não o faz com o objetivo de denegrir Lula.
Muito pelo contrário, é seu amigo e o admira – e faz questão de distingui-lo de Collor, que, segundo ele, seria um corrupto de verdade, sem explicar exatamente o que os distingue. Talvez o fato de que Collor não teve sucesso.
E aí está um dos aspectos mais interessantes dessa história. Mujica supunha estar falando do óbvio (e estava): o papel de Lula no Mensalão. Um papel que ninguém ignora, a não ser, claro, a Justiça brasileira e a oposição de então, que evitou pedir o seu impeachment. Se suspeitasse dos problemas que causaria ao amigo, provavelmente não falaria. Mas falou - e, nestes tempos de Petrolão, recolocou em cena o perfil moral do Chefe do PT.
Em 2010, o Mensalão já tramitava há cinco anos no STF. E Lula, em relação a ele, já havia se manifestado das maneiras mais contraditórias. De início, disse que não sabia de nada; depois, que foi traído. Chegou a dizer que o PT devia desculpas ao país.
Mas, à medida em que o tempo passava, convicto de que nada iria ocorrer, assumiu tom desafiante. Disse que o Mensalão jamais havia ocorrido, que era uma invenção da oposição (a mesma que o havia livrado do impeachment) e que estava convencido de que não passara de uma tentativa de golpe de estado.
Mais: prometeu que, tão logo deixasse a presidência, iria se dedicar a investigar por conta própria o caso. Bravata ridícula, na medida em que tal tarefa não cabe a um ex-presidente, que é um cidadão comum, desprovido dos meios de investigação, que pertencem ao Estado. Se queria investigar, o lugar de fazê-lo era na presidência – e não em São Bernardo ou no sítio de Atibaia.
A alegação de que não sabia foi, de imediato, desmentida por dois personagens: o então deputado Roberto Jefferson, delator do esquema (em quem Lula dizia confiar ao ponto de não recear em lhe dar um cheque em branco), e o governador de Goiás, Marcone Perillo – a quem chamava de “companheiro” e a quem agradeceu publicamente a ideia de juntar as bolsas sociais do governo FHC numa só, a Bolsa Família.
Tornou-se seu inimigo figadal.
O importante nessa “revelação” de Mujica não é o fato em si, que ninguém jamais ignorou – a não ser o então procurador-geral da República Antonio Fernandes de Souza, que excluiu Lula da denúncia - mas a justificativa do ex-presidente: não há outro meio de governar o Brasil. Só pela corrupção.
Esse modo estrábico (e imoral) de enxergar o país explica as inúmeras denúncias que envolvem os governos do PT, não apenas no âmbito federal, mas também nos âmbitos estaduais e municipais. Explica os assassinatos dos prefeitos Toninho do PT (Campinas) e Celso Daniel (Santo André), até hoje sem solução.
Explica o Petrolão e os saques, entre outros, aos fundos de pensão, BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica, Dnit, Eletrobras e onde mais haja cofres abarrotados. Só roubando – eis o mote a aplacar eventuais crises de consciência. Lula também disse a Mujica, em relação ao Mensalão, que se sentia “um pouco” culpado. Só um pouco. Quando o caso se aproximava do julgamento do STF, abordou o ministro Gilmar Mendes em busca de adiamento.
Tentou chantageá-lo, sem êxito, por meio da CPI do Cachoeira, o bicheiro que financiava políticos (sobretudo do PT), em que seus aliados buscaram transformar o papel investigativo de uma revista, a Veja, em cumplicidade com o bicheiro.
Também não funcionou. Lula escapou do Mensalão – um crime que, não obstante envolver menos dinheiro que o Petrolão, tem simbolismo mais grave, por se tratar da compra de um poder da República (o Legislativo) por outro (o Executivo). Os ministros Celso de Melo e Ayres Brito, do STF, o classificaram de tentativa de golpe, de crime contra o estado e a democracia. Nesses termos, tudo saiu muito barato: os agentes políticos estão todos soltos.
E aí surge o Petrolão. Lula repete a pantomima: não sabia de nada, não fez nada – não houve nada. Tudo não passa de tentativa para denegrir o PT e derrubar Dilma (cujo impeachment, clamado nas ruas, é mais uma vez blindado pela oposição).
O serviço (involuntário) que o companheiro Mujica prestou foi o de ter revelado (ou confirmado) ao país que o roubo, no PT, não deriva apenas de uma fraqueza humana pelo enriquecimento fácil, mas da convicção ideológica de que é uma ferramenta de governo. Sem ele – eis a lógica - não se governa. Isso explica tudo o que aí está - e deixa claro que, com esses pilotos, não há chance de a embarcação Brasil chegar a porto seguro.
O depoimento está no recém-lançado livro “Uma Ovelha Negra no Poder”, em que Mujica conta a dois jornalistas amigos, Andrés Danza e Ernesto Tulbovitz, sua passagem pela presidência do Uruguai. Não o faz com o objetivo de denegrir Lula.
Muito pelo contrário, é seu amigo e o admira – e faz questão de distingui-lo de Collor, que, segundo ele, seria um corrupto de verdade, sem explicar exatamente o que os distingue. Talvez o fato de que Collor não teve sucesso.
E aí está um dos aspectos mais interessantes dessa história. Mujica supunha estar falando do óbvio (e estava): o papel de Lula no Mensalão. Um papel que ninguém ignora, a não ser, claro, a Justiça brasileira e a oposição de então, que evitou pedir o seu impeachment. Se suspeitasse dos problemas que causaria ao amigo, provavelmente não falaria. Mas falou - e, nestes tempos de Petrolão, recolocou em cena o perfil moral do Chefe do PT.
Em 2010, o Mensalão já tramitava há cinco anos no STF. E Lula, em relação a ele, já havia se manifestado das maneiras mais contraditórias. De início, disse que não sabia de nada; depois, que foi traído. Chegou a dizer que o PT devia desculpas ao país.
Mas, à medida em que o tempo passava, convicto de que nada iria ocorrer, assumiu tom desafiante. Disse que o Mensalão jamais havia ocorrido, que era uma invenção da oposição (a mesma que o havia livrado do impeachment) e que estava convencido de que não passara de uma tentativa de golpe de estado.
Mais: prometeu que, tão logo deixasse a presidência, iria se dedicar a investigar por conta própria o caso. Bravata ridícula, na medida em que tal tarefa não cabe a um ex-presidente, que é um cidadão comum, desprovido dos meios de investigação, que pertencem ao Estado. Se queria investigar, o lugar de fazê-lo era na presidência – e não em São Bernardo ou no sítio de Atibaia.
A alegação de que não sabia foi, de imediato, desmentida por dois personagens: o então deputado Roberto Jefferson, delator do esquema (em quem Lula dizia confiar ao ponto de não recear em lhe dar um cheque em branco), e o governador de Goiás, Marcone Perillo – a quem chamava de “companheiro” e a quem agradeceu publicamente a ideia de juntar as bolsas sociais do governo FHC numa só, a Bolsa Família.
Tornou-se seu inimigo figadal.
O importante nessa “revelação” de Mujica não é o fato em si, que ninguém jamais ignorou – a não ser o então procurador-geral da República Antonio Fernandes de Souza, que excluiu Lula da denúncia - mas a justificativa do ex-presidente: não há outro meio de governar o Brasil. Só pela corrupção.
Esse modo estrábico (e imoral) de enxergar o país explica as inúmeras denúncias que envolvem os governos do PT, não apenas no âmbito federal, mas também nos âmbitos estaduais e municipais. Explica os assassinatos dos prefeitos Toninho do PT (Campinas) e Celso Daniel (Santo André), até hoje sem solução.
Explica o Petrolão e os saques, entre outros, aos fundos de pensão, BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica, Dnit, Eletrobras e onde mais haja cofres abarrotados. Só roubando – eis o mote a aplacar eventuais crises de consciência. Lula também disse a Mujica, em relação ao Mensalão, que se sentia “um pouco” culpado. Só um pouco. Quando o caso se aproximava do julgamento do STF, abordou o ministro Gilmar Mendes em busca de adiamento.
Tentou chantageá-lo, sem êxito, por meio da CPI do Cachoeira, o bicheiro que financiava políticos (sobretudo do PT), em que seus aliados buscaram transformar o papel investigativo de uma revista, a Veja, em cumplicidade com o bicheiro.
Também não funcionou. Lula escapou do Mensalão – um crime que, não obstante envolver menos dinheiro que o Petrolão, tem simbolismo mais grave, por se tratar da compra de um poder da República (o Legislativo) por outro (o Executivo). Os ministros Celso de Melo e Ayres Brito, do STF, o classificaram de tentativa de golpe, de crime contra o estado e a democracia. Nesses termos, tudo saiu muito barato: os agentes políticos estão todos soltos.
E aí surge o Petrolão. Lula repete a pantomima: não sabia de nada, não fez nada – não houve nada. Tudo não passa de tentativa para denegrir o PT e derrubar Dilma (cujo impeachment, clamado nas ruas, é mais uma vez blindado pela oposição).
O serviço (involuntário) que o companheiro Mujica prestou foi o de ter revelado (ou confirmado) ao país que o roubo, no PT, não deriva apenas de uma fraqueza humana pelo enriquecimento fácil, mas da convicção ideológica de que é uma ferramenta de governo. Sem ele – eis a lógica - não se governa. Isso explica tudo o que aí está - e deixa claro que, com esses pilotos, não há chance de a embarcação Brasil chegar a porto seguro.