Meu pai adorava ir ao centro da cidade, coisa que eu sempre detestei em todas as quadras de minha vida.Lá ele encontrava os amigos e os colegas do Clube Militar, situado na esquina da rua Santa Luzia com a avenida Rio Branco. Ia sempre à tarde e às vezes calhava de me levar a reboque, ou para comprar algo específico para mim, ou ir á biblioteca do Clube, onde menino eu já havia devorado quase todos os mestres do romance policial da época...
Dentre os pontos obrigatórios de meu pai era dar uma (longa) passada na loja de um alfaiate português muito seu amigo, o Arnaldo.
Preciosa figura este Arnaldo! Sempre de camisa social e gravata, as mangas arregaçadas, uma alfineteira presa a um dos braços, cigarrinho aceso quase sempre, amarelando-lhe os bigodes.
Tinha uma bela cabeça, o seu Arnaldo. Uma cabeleira basta, poderia ser um maestro que ninguém diria nada, era uma aparência leonina, sendo os cabelos divididos entre grisalhos e amarelados, de uma pintura castanha que logo se esmaecia. Tinha a pele muito alva, e eu sabia que era casado com uma mulata. Seu timbre de voz, naturalmente de baixo, conservava o sotaque português, e já cá estava no Brasil há muitos e muitos anos. Sua oficina era ampla, de frente para a Rio Branco, muito arejada, duas grandes janelas, duas grandes mesas, retalhos de fazendas, esquadros de madeira e enormes tesouras. Tinha uns tres ou quatro oficiais, todos de meia idade, sempre em atividade, todos com um metro de pano ao pescoço, parecendo crachás, e nunca se furtavam aqui e ali a um dedinho de prosa com os clientes, "para descansar os dedos"...Prateleiras de cortes de tecidos, giz também não faltava, e muitas revistas de moda masculina para que seus clientes escolhessem seus ternos, que eram o seu maior movimento, pois grande parte da oficialidade fazia suas roupas com ele.Falava-se de política, às vezes apaixonadamente, e era o assunto principal para minha grande chateação. Meu pai quando faleceu, eu tinha 33 anos, e nunca mais soube do seu Arnaldo – que esteja bem, onde estiver, bom amigo de meu pai!...
Dentre os pontos obrigatórios de meu pai era dar uma (longa) passada na loja de um alfaiate português muito seu amigo, o Arnaldo.
Preciosa figura este Arnaldo! Sempre de camisa social e gravata, as mangas arregaçadas, uma alfineteira presa a um dos braços, cigarrinho aceso quase sempre, amarelando-lhe os bigodes.
Tinha uma bela cabeça, o seu Arnaldo. Uma cabeleira basta, poderia ser um maestro que ninguém diria nada, era uma aparência leonina, sendo os cabelos divididos entre grisalhos e amarelados, de uma pintura castanha que logo se esmaecia. Tinha a pele muito alva, e eu sabia que era casado com uma mulata. Seu timbre de voz, naturalmente de baixo, conservava o sotaque português, e já cá estava no Brasil há muitos e muitos anos. Sua oficina era ampla, de frente para a Rio Branco, muito arejada, duas grandes janelas, duas grandes mesas, retalhos de fazendas, esquadros de madeira e enormes tesouras. Tinha uns tres ou quatro oficiais, todos de meia idade, sempre em atividade, todos com um metro de pano ao pescoço, parecendo crachás, e nunca se furtavam aqui e ali a um dedinho de prosa com os clientes, "para descansar os dedos"...Prateleiras de cortes de tecidos, giz também não faltava, e muitas revistas de moda masculina para que seus clientes escolhessem seus ternos, que eram o seu maior movimento, pois grande parte da oficialidade fazia suas roupas com ele.Falava-se de política, às vezes apaixonadamente, e era o assunto principal para minha grande chateação. Meu pai quando faleceu, eu tinha 33 anos, e nunca mais soube do seu Arnaldo – que esteja bem, onde estiver, bom amigo de meu pai!...
Pessoas que passam pelas nossas vidas, a princípio parecem insignificantes mas, com o passar do tempo, nas lembranças de momentos simples, mas de grande alegria, voltam à tona e bate a curiosidade: "Por onde andará o seu Arnaldo?" Mendonça
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