Quando os velhos chegam à idade que mereça este termo - velhos - tendem a regredir como se crianças se tornassem. São casmurros, enfezados, reclamam de qualquer coisinha, tudo os incomoda na sua santa e egoista paz...Mudam de humor a um simples agrado, uma palavrinha gentil, um sorriso ou um beijo.
Minha mãe era uma dessas velhinhas que as pessoas na rua paravam para exclamar o quão bonitinha ela era. Como tinha uma dificuldade de locomoção que se acentuava, comprei-lhe uma cadeira de rodas, para que as empregadas pudessem leva-la até o calçadão de Copacabana, onde a fotografamos conversando (sériamente) num dos bancos do posto 6 com o poeta Carlos Drummond de Andrade. Já entenderam que ela já havia perdido -desde 1997 - a lucidez, e todas aquelas bençãos de que não nos damos conta quando estamos em plena saúde mental...
De 1997 a 2005, quando faleceu, eu fui um guardião atento dela, colocando a seu lado três empregadas simultaneamente e mais uma amiga secretária do consultório que lá passava todos os domingos. Tudo para lhe dar um ambiente de alegria, de brincadeiras, de farrinhas inocentes, como tomar água de côco na beira da praia, ou sorvetes, fingir fofocas, essas coisas.
Diálogo já não tinhamos mais há anos, nada tipo conversa com a interveniência da razão, do raciocínio, da pesagem de prós e contras, enfim, nada. Eu me conformara já, tudo o que eu queria era que nada, nada lhe faltasse. E não faltou.
Era gulosa, a danadinha, se alimentava bem.
Era uma figura de biscuit, um sorriso que suscitava cumplicidades e aliciava amizades, principalmente nas ruas em sua cadeira de rodas. Tenho, confesso, tido muitas dificuldades em 'colocar uma pedra' neste assunto desta perda. Acho que conseguirei, brevemente. Mas a todos vocês que têem mães neste estado, um conselho: dêem tudo de si para que elas tenham um fim DIGNO. Ou carregarão na consciência um peso como uma ferida que não quer mais se curar...
Olá Sergio leio os teus comentários no Charquinho e já te tenho visitado hoje porém vou deixar também o meu comentário.
ResponderExcluirNão só às mães é devido esse tratamento mas também ao pai aos avós a todos os que nos deram amor e a quem devemos tudo o que somos. Digo-te tive o privilégio de estar presente nos últimos momentos do meu pai e da minha mãe fui eu quem lhes fechou os olhos e até esse dia fui uma filha sempre presente.
Já partiram há muito e não sinto saudades sabes porquê ? Porque estão sempre comigo a meu lado. Sinto-os presentes todos os dias da minha vida.
Susete
sergio disse...
ResponderExcluirAqueles que se foram não deixam atrás de si as farpas do arame do envolvimento direto. O tempo ameniza...Mas, Susete, eu aqui me concentrei em minha mãe que a perdi ano passado, entendes?Meu pai se foi em 1970 e meus avós em torno disso.
Já houve muita cicatrização empós isto...Obrigado pelas palavras e volte sempre, amiga
Deixo um sorriso para acompanhar os "outros" que lhe são dirigidos :)
ResponderExcluirO que deveria de ser feito não deveria ser só por ser, pela nossa consciencia que poderiamos/deveriamos ter feito mais... deveria ser "apenas e só" um gesto de amor :)
e uma pergunta que vai entender...
Não tem tido nenhum sonho repetido sem um final, pois não?
:)
beijo
Não, não tenho tido, nada parecido com aqueles com meu avô...Eu bem que gostaria se surgissem estes sonhos...
ResponderExcluirMeu querido amigo...
ResponderExcluirNo seu avó faltava o abraço, talvez por uma vontade de ter dito uma ultima palavra, o seu avô ao Sergio ou ao contrario.
A sua resposta á minha pergunta, eu já a sabia, fez tudo não ficou nada por dizer, nem por dizer, nem sentir:)
beijo
V. definitivamente, é uma criatura espiritualista...dá pra perceber..
ResponderExcluirIsso é bom ou mau?? :)
ResponderExcluireu so falo por intuição, por fé, nem sei que nome vou chamar a isto que me vai passando pela cabeça ou pelo coração...