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04 agosto 2007

Espelho, espelho meu SRebouças 1985


Contemplo-me mais uma vez neste espelho

e não reconheço as feições de quem me espreita,

a boca vazia e amarga,

o nariz inchado e vermelho do tanto pranto...

estes olhos, repassados de dor....

Não! não sou eu!...entanto, o espelho não mente.

Não é justo que uma criatura no seu juizo perfeito

se deixe assim arrastar a um abismo, por uma história

que só aconteceu do lado de cá deste espelho....

...............................................................................

Porquê contemplar-me neste espelho,

onde outrora ao meu o teu sorriso se juntava,

e estas mãos tinham nossos dedos entrelaçados

em juras de amor não proclamadas...

Os nossos narizes cheiravam colados o mesmo ar

no prelúdio de cada beijo trocado.

Nossos corpos cabiam neste espelho

onde hoje resta só este corpo nú:

este espelho, que me recusa tua imagem,

e me devolve o silêncio da minha própria mágoa...

Espelho, espelho, quanto afinal me mentiste?

Naquela imagem dupla que me oferecias,

qual era a verdadeira imagem,

qual era na verdade uma ilusão?


És frio, és pelho, espelho,

estupor, espanto, esperança esvaída...

Espelho, espelho, quanto afinal me mentiste:

ou estarás finalmente refletindo a mentira?...



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