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09 agosto 2012

JÁ VENHO DESDE O PRINCÍPIO DO MUNDO... (Isabel Vieira)



Já venho desde o princípio do mundo 


E colho num olhar a lua turva. 


Os braços das árvores já não chegam para me abraçar 


E a noite traz com ela a antiga bruma. 


Já adormeci espiando raízes 


E a nítida frouxidão das pedras 

nuas. 

Conhecem-me os muros férteis de heras e de musgos 

Mas estiram-me a alma para longe daqui. 


Eu sei que já vivi o destino das roseiras bravas 


E os caminhos por onde escorria o mel das flores. 


Já fui a sombra de Deus antes da noite e do dia 


E agora sou o pó que cobre as cerejas maduras. 



09-12-2011 Isabel Vieira

5 comentários:

  1. Morri de espanto quando o pó das cerejas se tornou água e as pedras, afundadas nas raízes dos salgueiros, cantaram…


    Já venho!
    Mil obrigadas

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  2. Sérgio:
    Vou-te contando as horas como quem faz colares de flores. Os minutos e os segundos também contam. É neles que se perde o cheiro a maresia.

    Se quiseres, escuta:


    Momento
    Da crisálida a solenidade das coisas inexplicavelmente paradas
    O destino labiríntico das sombras nas flores das lagerstroemias
    O mutismo incólume da diáspora

    O papel já se desdobrou e a mulher pariu a sua própria existência em semi- breves
    Há uma oitava nota que ninguém conhece
    Excepto os noitibós escondidos entre as sebes.
    10-08-2012
    Isabel Vieira
    E são 20h e 12m

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  3. Isabel, me explica aí o que são LAGERSTROEMIAS e NOITIBÓS?
    São palavrões lusos?..

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  4. Lagerstroemias são árvores que também existem no Brasil. Dão umas flores cor-de-rosa e têm o tronco muito liso.
    Noitibós são pirilampos.
    Beijinho para ti!

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  5. Olha, Sérgio, estive por aqui a ver as "minhas coisas". Tenho tanto de mim, dentro e fora de mim! Não sei como é que isto acontece! Há uma coisa que verifico. Todos os dias, mudo. E isso revela-se na minha escrita. Ando a ficar mais realista e tento fugir da metáfora.
    Só que há coisas antigas que ainda moram em mim, agora.
    É um desses belos momentos que te vou enviar. É claro que voltarei para ler as tuas coisas. Já sabes!


    Amarelo e laranja varridos como se fossem coisas banais
    Caminhos e umbrais de terra batida em que se invertem sóis
    Portões desengonçados e saltos de gazela
    Erguem-se em paredes de vidro e claustros de papel


    A chuva é como um corcel onde se transfiguram formas
    Em traços lazúli embutidos em clareiras mais doiradas do que o mel.
    Ainda assim crescem sombras verdes por detrás da lua
    Quando passos dispersos se embrulham em cortinas cruas


    Tombados sobre as ervas ficam os desenhos das mãos
    E os contornos indistintos das coisas que fazemos sem esperar
    Como se a vida que nos resta não bastasse
    Para reinventar novos umbrais de paredes de terra em tons de pastel


    21/11/2009
    Isabel Vieira



    Beijos

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