Corpos sem beijos
nem tranquei a última porta.
Lavei as escadarias de meu ontem
com leite de cabra no cio.
Esculpo amanhãs paridos das pedras,
trago-os no peito, vestidos de aurora.
Tingi de branco a flâmula parda que tremulava ao longe,
hoje ela acena outros mundos com marca de gente.
Persigo as sombras que ficaram do encontro sem rostos
e os pedaços do tesão que, de tão grande,
consumiu-se em prantos.
São tão frágeis os nós de nossas amarras
e tão tênues os fios que tecem essa teia de corpos sem beijos.
São tão fortes essas dores que riem de mim,
São tão minhas essas mãos calejadas de toques contidos,
esse ar rarefeito de lábios nos lábios.
Sentinelas de olhos prostrados,
essa insônia que me dorme em teu leito...
Moisés Augusto Gonçalves, in ruas vazias de gente
...E QUEM OUSARIA COMENTAR COISA TÃO INUNDADA DE VIDA E PAIXÃO?!
ResponderExcluirSérgio:
ResponderExcluirComentaste! Disseste muito em pouco. Eu tenho sempre muita dificuldade em analisar bons poemas. Não encontro as palavras certas. É assim que eu estou. Se não gostasse, se não fizesse eco em mim, seria muito fácil fazer uma crítica nesse sentido. Já o fiz a algumas pessoas. Procuro dizer sempre o que sinto.
Este poema é muito forte e dorido. Como por exemplo" Essa insónia que me dorme em teu leito." Este projectar-se em dizer no não dizer! A transfiguração do sentido das palavras... Enfim, isto é poesia!
Isabel