No piso molhado
Se apenas bastasse um assento numa mala e nem uma paragem existisse.
Se apenas bastasse a linha das árvores e um pavimento molhado.
Se ninguém se importasse de ficar à chuva e se contentasse com o brilho da calçada…
Se o comboio passasse e parasse fora da estação.
Se cada passageiro fosse o suficiente para equacionar destinos…
O maquinista do comboio só tinha que estar atento aos bancos feitos de malas e de chapéus-de-chuva abertos.
Cada pessoa corresponderia a um mundo tão grande como o próprio mundo e, por isso, seria transportado de boa vontade, apesar das muitas paragens que, provavelmente, se distribuiriam por todas as linhas e por todos os espaços, mesmo em terra firme, sem passeios molhados.
Uma vez, no comboio, cada pessoa olharia, se quisesse, o mundo a correr lá fora e sentiria um vago sentimento com sabor a sol. O mesmo sol com que se guardaram os objectos dentro das malas. O mesmo sol que, quando não existe mais nada, é a nossa única bagagem.
Os comboios sempre me fascinaram,
tal com os carris tortuosos.
As pedras cheias de óleo e com aquele cheiro intenso, misturado com o bafo que sopra da terra.
Sempre me atraíram os chapéus-de chuva
e os assentos feitos de coisas paradas.
Tão paradas que até apetece abaná-las
para ver se respiram o mesmo ar que nós.
Às vezes, causa-me angústia o silêncio das coisas.
Outras vezes, são de uma tranquilidade que se espelha, desconchavando a chuva
e retalhando-se em pavios de cera,
no chão molhado.
Gostava de estar sentada à chuva
à espera que o comboio passasse.
Longe da estação onde as pessoas se atropelam
e se tornam tão insípidas com os bancos frios e húmidos ao longo das carruagens. Só havia de gostar da humidade que me entrasse nos pés enquanto esperava.
Havia de gostar que os dedos dos meus pés fizessem chape-chape, dentro dos meus sapatos molhados.
E eu ignorando cada momento, debruçar-me-ia,
alheia de tudo, no parapeito de uma janela imaginária.
Era aí que a minha viagem começava…
O comboio seria apenas o serpentear da minha vida,
a correr e a baloiçar, de um lado para o outro, como roupa no estendal.
Era só isto! O comboio estaria sempre no mesmo lugar!
17-03-2012
Isabel Vieira
Olha, Olho Vivo, eu preferia tratar-te pelo teu verdadeiro nome, isto que tu fizeste está magnífico. Esta disposição poética em que colocaste o texto assenta que nem uma luva.
ResponderExcluirTambém gosto da imagem que tem muito a ver comigo. Melhor direi, com o que não se vê de mim. Fiquei emocionada! Afinal, não somos assim tão diferentes uns dos outros. Até consegues " entrar" dentro de mim!
Agradeço-te por esta recepção e acolhimento inesperados. É assim que eu gosto. Do que me acontece sem ser programado. Estava longe de imaginar que aquilo que escrevo iria encantar alguém do Brasil, um país que eu adoro.
Vou voltar para ver outras coisas.
Mil abraços
Isabel
SERGIO REBOUÇAS, um teu criado....
ResponderExcluirE NEM OUSES DEIXAR-ME À DERIVA E À CASADACOGRA...SE A FREQUENTARES METADE DO QUE FREQUENTAS O ANÃO BARRIGUDO:))) FICAREI FELIZ.
GRANDE BEIJO AMIGA...
E QUERO MAIS, FAZ DAQUI UMA SUCURSAL DO TEU TECLADO E DO TEU CORAÇÃO GENEROSO.
ResponderExcluirAh, sim? Isso seria um abuso da minha parte, Sérgio! Tu és uma delícia, mas pôr-me para aqui a postar coisas minhas!...
ResponderExcluirSabes, eu não tenho espaço na net, a não ser no google +. Não tenho facebook nem hi5. E também não ia grande coisa com os blogs. Isto foi mais desde que o Anãozinho barrigudo, inconscientemente, talvez, me deu a volta, digamos assim. Porque ele nunca me pediu que lá fosse! Só me "picava" no google. E eu não sou de me deixar ficar... E fui ver! Há alturas em que penso se não estarei e exagerar! Mas, é como te digo! Enquanto ele não se manifestar contra, vou passando por lá!
Aqui, vou deixando, também, conforme for dando, não é? E depois quero ler as tuas outras postagens.
És uma maravilha e brasileiro cem por certo: comunicativo e entusiasta. GOSTO MESMO DE TI!
Isabel
MEU ANJO, EU NÃO FAÇO CONVITES HIPÓCRITAS, MEU CORAÇÃO DITA-ME O AFETO....MAS TAMBÉM É RADICAL QUANDO CONTRA. PORISSO INSISTO NO CONVITE. VEJA QUE ALTEREI A FONTE -LETRAS-DO TEU POEMA, FICOU MAIS DELICADO. ESPERO-TE.
ResponderExcluirClaro que tens toda a razão Sérgio. Gosto de ti assim: assertivo. Eu já tinha reparado na personalizaçao que deste ao meu poema. Já te tinha falado no arranjo excelente que lhe deste. E isto era mais prosa poética ou a descrição de um momento. Tudo partiu de uma imagem que eu vi de uma moça sentada numa mala, numa linha de comboio, sem destino. Aquilo mexeu comido de tal maneira que me pus a escrever... Agora, vou enviar-te um texto especial. Eu gosto muito dele e já foi feito há 3 anos, creio. Só mais uma coisa. Também quero, a partir da ilustração que aqui colocaste, fazer o que a inspiraração me ditar. Depois, vês. De momento, vou procurar o tal texto.
ResponderExcluirAbraços
Isabel
Olha,com muita atenção, Sérgio!Aqui vai. Não é poesia. É outra coisa. Não sei bem o que é! Um dia destes, debito para aqui poemas. Dá-me só tempo e boa disposição para o fazer.
ResponderExcluirAcho que tenho que enviar por duas vezes. Não me deixam enviar tudo de uma assentada. Já vai!