Zizi Possi: “Está faltando
poesia nas músicas”
A cantora grava novo CD e DVD em São Paulo
e diz que sente falta de canções com versos bem
trabalhados. “Fico passada quando ouço certas
músicas”
Sem ainda saber ao certo quando e por qual gravadora o novo álbum chegará ao mercado, Zizi, que diz detestar a burocracia que envolve o lançamento de um trabalho, prefere se concentrar no show e nas músicas que vai apresentar ao público, muitas inéditas em sua voz, como a composição ‘Sem Você’, parceria de Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown.
A cantora também vai apresentar uma compositora pouco conhecida do grande público, a gaúcha Necka Ayala, de quem Zizi escolheu a canção “O vento”. “Ela é uma grande poeta, de uma sensibilidade incrível. Hoje em dia eu sinto falta de poesia na música, parece que isso acabou”, diz Zizi.
Em conversa com ÉPOCA, Zizi revela algumas músicas que estarão no show, fala de como as experiências que viveu transformaram seu canto e faz um balanço sobre a iniciativa de ter produzido seu último trabalho. “Fiquei com um rombo em minha conta bancária”, diz.
ÉPOCA - No projeto anterior, “Cantos & contos”, você mesma arregaçou as mangas e produziu o trabalho. Esse novo DVD será nesse esquema também?
Zizi Possi– Não. Será uma co-produção, uma parceria entre mim e o Tom Jazz (casa de show). Eu apresentei esse show por lá, eles gostaram e propuseram que eu o gravasse.
Zizi Possi– Não. Será uma co-produção, uma parceria entre mim e o Tom Jazz (casa de show). Eu apresentei esse show por lá, eles gostaram e propuseram que eu o gravasse.
ÉPOCA – E você já sabe por qual gravadora sairá?
Zizi – Não sei (risos). Na verdade, do que precisamos é de uma boa distribuidora. Gravadora é bacana ter antes de fazer o projeto, para poder arcar com os custos, com ensaios, com os trâmites burocráticos. Mas, como somos nós que estamos cuidando de toda essa parte, precisamos é de alguém que distribua. Vou te confessar uma coisa: nestes anos todos de estrada, descobri que sou uma ótima cantora, mas uma péssima administradora. Eu me coloquei no mercado de um jeito bacana, sou respeitada, mas, para essa parte de administração, eu não tenho mais idade (risos). É muita coisa complicada! Eu prefiro fazer um projeto de arquitetura a ter que lidar com essa parte burocrática.
Zizi – Não sei (risos). Na verdade, do que precisamos é de uma boa distribuidora. Gravadora é bacana ter antes de fazer o projeto, para poder arcar com os custos, com ensaios, com os trâmites burocráticos. Mas, como somos nós que estamos cuidando de toda essa parte, precisamos é de alguém que distribua. Vou te confessar uma coisa: nestes anos todos de estrada, descobri que sou uma ótima cantora, mas uma péssima administradora. Eu me coloquei no mercado de um jeito bacana, sou respeitada, mas, para essa parte de administração, eu não tenho mais idade (risos). É muita coisa complicada! Eu prefiro fazer um projeto de arquitetura a ter que lidar com essa parte burocrática.
ÉPOCA – Prefere pensar só no show, em cantar?
Zizi – Pois é. Olha que privilégio! Viajar em música, em tudo que envolve o show.
Zizi – Pois é. Olha que privilégio! Viajar em música, em tudo que envolve o show.
ÉPOCA - E qual o balanço que você faz do projeto Cantos & contos, que você produziu?
Zizi – Da parte artística e profissional foi genial. Sinto-me muito mais segura, muito mais madura. Eu e a minha banda criamos uma linguagem importante, nos comunicamos pelos olhos. Criamos uma prática de improvisos a que eu sempre fui meio arredia, sempre gostei de ensaiar meus improvisos. Ficamos mais corajosos, confiando mais em nosso próprio taco. Mas, do ponto de vista financeiro, esquece. Foi um rombo na minha conta pessoal. Embora tenha sido legal, porque, sem divulgação nenhuma, sem ação de rádio, vendi cerca de 10 ou 11 mil DVDs, o que é uma marca muito bacana.
Zizi – Da parte artística e profissional foi genial. Sinto-me muito mais segura, muito mais madura. Eu e a minha banda criamos uma linguagem importante, nos comunicamos pelos olhos. Criamos uma prática de improvisos a que eu sempre fui meio arredia, sempre gostei de ensaiar meus improvisos. Ficamos mais corajosos, confiando mais em nosso próprio taco. Mas, do ponto de vista financeiro, esquece. Foi um rombo na minha conta pessoal. Embora tenha sido legal, porque, sem divulgação nenhuma, sem ação de rádio, vendi cerca de 10 ou 11 mil DVDs, o que é uma marca muito bacana.
ÉPOCA - Muitos outros artistas criaram seus selos para lançar seus trabalhos, como Djavan, Zé Ramalho, Pedro Mariano. Você que acha, de certa forma, vocês demoraram em partir por esse caminho mais independente?
Zizi – Sabe o que é? Quando existiam gravadoras fortes, elas tinham um monte de defeitos. Mas era muito legal ter uma grana lá todo ano para fazer seus projetos. Grana para produzir o CD, para pagar estúdio para ensaiar. Elas davam apoio em todas as etapas. Mas nós perdemos isso. Atualmente, as gravadoras só querem investir no que vende muito, no que dá retorno rápido. Hoje não tem mais nem quase lojas de discos. Todo mundo está tendo que se reinventar. Temos que usar a internet, não só para sermos pirateados, mas para vendermos nosso trabalho.
Zizi – Sabe o que é? Quando existiam gravadoras fortes, elas tinham um monte de defeitos. Mas era muito legal ter uma grana lá todo ano para fazer seus projetos. Grana para produzir o CD, para pagar estúdio para ensaiar. Elas davam apoio em todas as etapas. Mas nós perdemos isso. Atualmente, as gravadoras só querem investir no que vende muito, no que dá retorno rápido. Hoje não tem mais nem quase lojas de discos. Todo mundo está tendo que se reinventar. Temos que usar a internet, não só para sermos pirateados, mas para vendermos nosso trabalho.
ÉPOCA - O nome do show (Tudo se transformou) é o nome do samba de Paulinho da Viola. É um samba um tanto triste, apesar de bonito. Por que o escolheu como título do show?
Zizi – Na verdade, ele é triste do ponto de visto da perda, mas não da vida. A vida é feita de perdas, não? E “tudo se transformou” tem a ver com o meu momento de vida. A vida é transformação, a mudança é regra. Esse título tem a ver com o conteúdo do show, da maneira como eu estou cantando, com o subsídio que eu tenho para cantar dessa forma.
Zizi – Na verdade, ele é triste do ponto de visto da perda, mas não da vida. A vida é feita de perdas, não? E “tudo se transformou” tem a ver com o meu momento de vida. A vida é transformação, a mudança é regra. Esse título tem a ver com o conteúdo do show, da maneira como eu estou cantando, com o subsídio que eu tenho para cantar dessa forma.
ÉPOCA – De que maneira seu canto se transformou?
Zizi – Na verdade, não é o canto que se transforma, é a consciência. É o jeito de olhar, de achar a informação. Quem passa o que eu passei (Zizi teve sérios problemas de coluna e chegou a ficar três meses na cama) não sai impune. Mas também acredito que não seja preciso passar pelo o que eu passei para se transformar. Basta viver. A gente está aqui para isso.
ÉPOCA - Você vai gravar canções inéditas?
Zizi – Vou cantar canções que são inéditas na minha voz, como uma música inédita chamada “O vento”, de uma compositora gaúcha, Necka Ayla. Ela tem o trabalho mais bonito de poesia, de melodia e harmonia que eu ouvi nos últimos tempos. Necka é uma grande poeta, de uma sensibilidade incrível. Hoje em dia eu sinto falta de poesia na música, parece que isso acabou.
Zizi – Na verdade, não é o canto que se transforma, é a consciência. É o jeito de olhar, de achar a informação. Quem passa o que eu passei (Zizi teve sérios problemas de coluna e chegou a ficar três meses na cama) não sai impune. Mas também acredito que não seja preciso passar pelo o que eu passei para se transformar. Basta viver. A gente está aqui para isso.
ÉPOCA - Você vai gravar canções inéditas?
Zizi – Vou cantar canções que são inéditas na minha voz, como uma música inédita chamada “O vento”, de uma compositora gaúcha, Necka Ayla. Ela tem o trabalho mais bonito de poesia, de melodia e harmonia que eu ouvi nos últimos tempos. Necka é uma grande poeta, de uma sensibilidade incrível. Hoje em dia eu sinto falta de poesia na música, parece que isso acabou.
ÉPOCA – Como você a encontrou?
Zizi – Ela me mandou um CD com músicas dela há algum tempo. Muitos compositores me mandam. Mas ouvir música para mim é coisa sagrada. Eu tenho que parar tudo e me dedicar àquilo. Por isso, às vezes demoro anos para ouvir, mas ouço.
Zizi – Ela me mandou um CD com músicas dela há algum tempo. Muitos compositores me mandam. Mas ouvir música para mim é coisa sagrada. Eu tenho que parar tudo e me dedicar àquilo. Por isso, às vezes demoro anos para ouvir, mas ouço.
ÉPOCA – Outra que está no roteiro é Meu mundo e nada mais, sucesso do Guilherme Arantes...
Zizi - Sim, que aconteceu na minha vida por causa da Marina e do DJ Zé Pedro, que me convidaram para gravá-la em um disco em homenagem ao Guilherme (A voz da mulher na obra de Guilherme Arantes). Tem também “Porta Estandarte”, do Geraldo Vandré, que eu canto em shows, mas nunca gravei.
Zizi - Sim, que aconteceu na minha vida por causa da Marina e do DJ Zé Pedro, que me convidaram para gravá-la em um disco em homenagem ao Guilherme (A voz da mulher na obra de Guilherme Arantes). Tem também “Porta Estandarte”, do Geraldo Vandré, que eu canto em shows, mas nunca gravei.
ÉPOCA – E aquela da “Xô, celulite”? Também estará no show?
Zizi – (risos) Aquilo é uma brincadeira! Faz tempo que eu não a canto, aliás. Na época que eu a fiz, deu até Fantástico. Fizeram uma matéria sobre celulite e vieram me entrevistar. As pessoas pediam no show e eu cantava. Mas ela não cabe no roteiro desse novo show. Só se a pedirem muito mesmo...
Zizi – (risos) Aquilo é uma brincadeira! Faz tempo que eu não a canto, aliás. Na época que eu a fiz, deu até Fantástico. Fizeram uma matéria sobre celulite e vieram me entrevistar. As pessoas pediam no show e eu cantava. Mas ela não cabe no roteiro desse novo show. Só se a pedirem muito mesmo...
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ÉPOCA – Você falou dessa nova compositora gaúcha, de quem vai gravar uma música. O que mais te chama atenção na música atual?
Zizi – O que me chama a atenção, sinceramente, é a falta de poesia nas músicas, da qualidade dos versos. Eu fico pas-sa-da! Meu Deus do céu! Em um país que tem Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Gonzaguinha, Renato Russo, Arnaldo Antunes... O que está acontecendo? Cadê todo mundo? Não sei se isso é fruto da modernidade, falta de qualidade, de educação, um conflito de gerações...
Zizi – O que me chama a atenção, sinceramente, é a falta de poesia nas músicas, da qualidade dos versos. Eu fico pas-sa-da! Meu Deus do céu! Em um país que tem Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Gonzaguinha, Renato Russo, Arnaldo Antunes... O que está acontecendo? Cadê todo mundo? Não sei se isso é fruto da modernidade, falta de qualidade, de educação, um conflito de gerações...
ÉPOCA – Isso dificulta encontrar canções?
Zizi – Claro. Rádio eu ouço pouco, só quando estou dirigindo. Às vezes ouço uma ou outra canção em novelas. Mas não acho que tenha nada muito novo por aí não...
Zizi – Claro. Rádio eu ouço pouco, só quando estou dirigindo. Às vezes ouço uma ou outra canção em novelas. Mas não acho que tenha nada muito novo por aí não...
ÉPOCA - Está na moda artistas recriarem algum show ou tocarem um disco na íntegra no palco. Tem vontade de fazer algo desse tipo com algum trabalho seu?
Zizi – Eu não. Para mim, show é show, disco é disco. Eu tenho vontade de fazer um trabalho, que está na minha imaginação faz tempo, que é mais existencialista, com músicas e instrumentos que a gente não usa normalmente, uma coisa mais em 4-D. Só que preciso de grana. Posso até aprová-lo na Lei Rouanet (de incentivo à cultura), mas conseguir a grana mesmo, quero ver...
Zizi – Eu não. Para mim, show é show, disco é disco. Eu tenho vontade de fazer um trabalho, que está na minha imaginação faz tempo, que é mais existencialista, com músicas e instrumentos que a gente não usa normalmente, uma coisa mais em 4-D. Só que preciso de grana. Posso até aprová-lo na Lei Rouanet (de incentivo à cultura), mas conseguir a grana mesmo, quero ver...
ÉPOCA - Recentemente, o Canal Viva reprisou, com muito sucesso, o programa Globo de Ouro. Você apareceu diversas vezes cantando “A paz”. Sente saudades dessa época?
Zizi – Eu sinto. Sinto saudades da época em que a música era importante na vida das pessoas a ponto de ter um mercado, de ter programas na televisão para música. Eu tenho uma profissão que perdeu status na mídia, no mercado. E o pouco espaço que sobrou é disputado a tapa por quem vende mais. Esse esvaziamento me entristece.
Zizi – Eu sinto. Sinto saudades da época em que a música era importante na vida das pessoas a ponto de ter um mercado, de ter programas na televisão para música. Eu tenho uma profissão que perdeu status na mídia, no mercado. E o pouco espaço que sobrou é disputado a tapa por quem vende mais. Esse esvaziamento me entristece.
ÉPOCA - Parecia uma época, nas rádios e nas TVs, mais aberta para a diversidade da música...
Zizi – Tinha espaço para todo mundo, para todo tipo de música. Isso que é riqueza cultural. A gente começa a empobrecer quando só há um caminho, só uma ou duas opções, no máximo. Riqueza cultural é ter um leque aberto. Nos últimos anos tudo foi se estreitando, baseado no que é popular. Mas nem fico pensando muito nisso, senão eu piro. Prefiro pensar em música que é bem melhor.
Zizi – Tinha espaço para todo mundo, para todo tipo de música. Isso que é riqueza cultural. A gente começa a empobrecer quando só há um caminho, só uma ou duas opções, no máximo. Riqueza cultural é ter um leque aberto. Nos últimos anos tudo foi se estreitando, baseado no que é popular. Mas nem fico pensando muito nisso, senão eu piro. Prefiro pensar em música que é bem melhor.
ÉPOCA - Por falar nos anos 80, é verdade que a música “Perigo” você não canta mais? Por quê?
Zizi – Não! Ás vezes canto sim, inclusive à capela. É o maior barato, todo mundo cantando comigo. Essa música é muito legal, uma cantada gay (risos). Hoje, talvez, eu não a escolhesse para gravar, porque eu estou em um outro momento de vida, tenho outra cabeça. Ela não faz parte do meu momento, não estou naquela fase mais, não que isso invalide tudo que passou, afinal foi o que me trouxe até aqui. Mas teria que cantá-la pensando naquela fase, lá atrás... Só mexeria no arranjo, daria palpite, coisa que eu não fazia antes.
Zizi – Não! Ás vezes canto sim, inclusive à capela. É o maior barato, todo mundo cantando comigo. Essa música é muito legal, uma cantada gay (risos). Hoje, talvez, eu não a escolhesse para gravar, porque eu estou em um outro momento de vida, tenho outra cabeça. Ela não faz parte do meu momento, não estou naquela fase mais, não que isso invalide tudo que passou, afinal foi o que me trouxe até aqui. Mas teria que cantá-la pensando naquela fase, lá atrás... Só mexeria no arranjo, daria palpite, coisa que eu não fazia antes.
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