SEGUIDORES

07 novembro 2014

ANTERO GRECO (O ESTADÃO)


A intolerância vence

Antero Greco         

O futebol nacional teve momentos de emoção intensa na noite de quarta-feira. Em Santos e Belo Horizonte, no mesmo horário, houve enxurrada de magia, reviravoltas e classificações heroicas. A final inédita na Copa do Brasil é o auge de fase brilhante dos rivais mineiros Atlético e Cruzeiro, algo pra festejar e guardar na memória.
Poucas horas depois da explosão de euforia, vem a paulada: os dois clássicos serão disputados com torcida única. O Cruzeiro mandará o jogo no Mineirão, enquanto o Atlético vai apresentar-se no Independência. Cada um abriu mão da pequena quota de ingressos para visitantes. Ou seja, não haverá espetáculo da diversidade, não serão misturadas, nas arquibancadas, as bandeiras azuis e negras. Uma decisão monocromática.
Os dirigentes alegam que a medida se deve a graves incidentes provocados pelas duas torcidas na história recente. Como as autoridades não garantem a segurança, e como os tribunais esportivos punem os clubes por distúrbios dos fãs, ambos optaram pela solução radical. E simplista. E covarde.
Sempre que partida de tradição e rivalidade se realiza com a presença apenas dos seguidores do mandante, a sociedade sofre derrota. Não importa o resultado no gramado; não há vencedores, a não ser os que se guiam pela truculência na vida. Governo, polícia, cartolas escancaram a impotência e inércia deles e lascam bofetada no esporte.
Qual a graça de ir ao estádio, num duelo com o grande rival, e não ver ninguém do lado de lá? Para os saudáveis, nenhuma, pois o gostoso é tirar onda dos outros, vê-los sair cabisbaixos. Para os energúmenos, faz todo sentido, porque buscam a hegemonia a todo custo, não suportam divergências.
O futebol reflete, em escala menor, sentimento que de uns tempos para cá se disseminou entre nós: a polarização, o extremismo de posturas. O exemplo ruim veio das eleições para a presidência. O que deveria ser debate, virou ofensa; a troca de ideias cedeu lugar para bate-boca, ruptura, inimizades, preconceitos. O outro se transformou em inimigo a ser abatido. O fascismo não morreu; só ficou adormecido.
A comemoração que deveria ocorrer em Minas será truncada pela intolerância. Resta torcer para que os jogadores não se contaminem e joguem futebol.
Ladainha. O São Paulo está no caminho de outra conquista internacional - a Copa Sul-Americana. Mas, pela lamentação geral, fica a impressão de que os tricolores se submetem à ira implacável de um anjo vingador. A participação no torneio soa como maldição, a julgar por declarações de jogadores, de Muricy, cartolas. Uma pena sobre-humana que lhes infligiram.
Certo que viajar pra cá e pra lá não é fácil. Evidente que o acúmulo com deslocamentos pelo país por causa do Brasileiro aumenta o cansaço de quem vai a campo. Mas, calma lá: se não houvesse interesse na disputa, por que não abrir mão do convite? Seria atitude corajosa, do São Paulo e de outros que se sintam prejudicados. E faria os responsáveis pelos calendários doméstico e internacional refletirem.
Todo ano tem sido a mesma lenga-lenga quando chega a Sul-Americana. A coragem se restringe a desabafos, que soam mais como desculpas para eventuais fracassos do que contrariedade de fato. Os dirigentes jogam para a torcida, e na prática pouco se lixam. Sobra mesmo para os treinadores e para os atletas. O lado deles compreendo.
Santa ingenuidade. A turma do Bom Senso conversou com representantes dos clubes, meses atrás, numa tentativa de chegarem a acordos a respeito de pontos importantes na relação entre jogadores e entidades. Parecia que se chegava a inédita parceira para o bem do futebol brasileiro. No texto sugerido para a Lei de Responsabilidade Fiscal no Esporte vários pontos foram modificados, para favorecer a cartolagem, claro. É no que dá os rapazes confiarem nos coronéis donos da bola.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

MESMO QUE NÃO TENHA TEMPO COMENTE. SUA VISITA É
MUITO IMPORTANTE E SEUS COMENTÁRIOS TAMBÉM...
ANÔNIMOS ACEITOS, DESDE QUE NÃO OFENSIVOS. UMA COISA IMPORTANTE: AS CAPTCHAS NÃO TÊM DIFICULDADE PARA AS PESSOAS. AS LETRAS OU SÃO MAIÚSCULAS OU MINÚSCULAS, NÚMEROS SEMPRE IGUAIS. CASO NÃO ENTENDA HÁ UMA RODINHA PARA V. MUDAR ATÉ ACHAR MELHOR.OBRIGADO.