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15 agosto 2007

Animula Vagula... d'aprés M.Yourcenar 1982 SRebouças

"Anima vagula, blandula,
Hospes comesque corporis,
Quae nunc abibis in loca,
pallidula, rigida, nudula,
Nec, ut soles, dabis locos..."
(Memórias de Adriano - de Marguerite Yourcenar)
[Pequena alma terna e flutuante/hóspede e companheira de meu corpo/ vais descer aos lugares pálidos duros nus/onde deverás renunciar aos jogos de outrora...] (M Y )




Eis-me, novamente, parado no tempo e no espaço,

criatura com vontade, sem vontade sequer de te-la,

criatura com desejos natimortos de esperanças,

na duração de toda uma vida, quando uma espera é descompasso,

mancha que olhos desatentos não conseguem perceber; parada esta mão, parado o corpo de sofridas andanças,

baqueia o coração, quando a lágrima furtiva

escapa ao controle, escapa entre os dedos envergonhados,

a mera lembrança da tua figura esquiva,

perdida talvez em lugares os mais inesperados:

ó eu quisera lutar, ser amado, ser-te merecedor,

mas sei em mim mesmo o destino do perdedor!

Estou, novamente, parado no tempo e no espaço,

fazia tanto tempo já que não sentia ou lembrava

da lâmina temperada de frio aço

que há tanto tempo sobre mim não pairava!

E que esta cabeça fervilhante, mero espelho d'alma,

pouse neste cepo manchado e suado de tantos amores,

de pescoços de todas as cores,

que pousaram, em desespero uns, outros em êxtase e calma,

a aguardar a queda final do cutelo, que silencia o coração e a razão!

Estou sim, não desejando embora estar ou ser,

parado no tempo e no espaço - e custa a crer,

que o dia lá fora esteja lindo e radioso,

se dentro de mim chove e eu me sinta tão desditoso:

se é tão bom amar, não é bom por isto sofrer,

embora sofrer seja paradigma de amar

Ah! este sentimento silencioso por fora, vulcânico por dentro,

quando as mãos crispadas definem um coração,

só se compara quando um vulcão

lava-nos a alma , estilhaçando senso e razão!

Este sentimento/silêncio ensurdecedor de todas

as querenças, doenças, dores tão intensas

sem sequer o alívio de uma palavra terna, a romper

este monótono tiquetaquear de um coração quebrado!




Pequena alma terna e flutuante
Hóspede um dia e fugaz companheira de meu corpo,
se acaso um dia desceres aos lugares pálidos duros
onde habitam solidão e desencontros,
inda que fugidias...desças, o coração pacificado,
pois não te deixarei renunciares aos jogos de outrora,
eis que o amor verdadeiro é assim:
VARIUS, MULTIPLEX MULTIFORMIS...( SR )







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