As casinhas no morro em frente
mais e mais se vão recortando
em silhueta: é a noite que finda,
em profunda nostalgia.
Faz-se hemorragia nos céus, a luz começa a invadir,
e uma tênue inquietação desperta
e vagamente se agita na cama, em quieta retomada de vida.
Há carinhos que desejam o toque do corpo amado,
há cautelas que evitam o toque do corpo derramado,
há uma lembrança de sonhos sofridos,
já quase abandonados,
há uma áurea de irrealidade neste amor
de tantos passos desencontrados.
Há uma transcendência de esferas, um toque
de irreal, um sonho, um encontro,
um medo de acordar, de ver
findar de modo brutal
aquilo que ainda nem bem começou;
cessou já a hemorragia nos céus, é dia claro,
mas a hemorragia continua, dentro de mim.
Há nuvens carregadas e inquietas dentro de mim,
há um arco-íris de expectativas dentro de mim,
há desassossego de futuro dentro de mim.
O dia lá fora acordou: quando acordarei dentro de mim?...
Quando virá a palavra, o gesto, a intenção,
a quebrar os vidros da casa, forçar-lhe as portas,
arrancar-lhe janelas, desfazer a cama?...
Quando virá a dúvida, a amortecer,
a paralisar,
estrangular
rarefazer,
jugular,
estropiar,
mutilar,
enlouquecer,
e tanta coisa mais
em AR OU ER?...
Quantos passos mais daremos juntos,
quantas vezes mais nossas mãos se falarão,
quantas palavras mais, quantos sorrisos ainda virão?...
Quantos silêncios mais haveremos de compartilhar?
Quantos desencontros, quantas desilusões nos esperam,
quantas angústias, quantas solidões?
Quantas forças nos restam para opor ao tempo
este amor quue teima em se afirmar
longe de outros olhos, de outros corações:
tu e eu, olhos nos olhos, caminhando sós,
unindo cada vez mais nossos corações?
Meu Deus! Que sentimento lindo, expresso em tão belo poema.
ResponderExcluirLindo mesmo, bom lê-lo!
Maraláxia
Gostei do poema pelo que diz do amor.
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