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16 agosto 2012

LEIAM ESTA CRÔNICA DELICIOSA DO BLOG A RUA INCLINADA, DO AMIGO VIC

http://aruainclinada.blogspot.com.br



Não sou de meter cunhas ou pedir favores.
Mas estes últimos, por vezes, são difíceis de contornar, e lá ficamos nós em dívida. E na altura de os pagar, geralmente pagamo-los caro. Foi o que me aconteceu com a minha vizinha do lado.
Há uns anos, a minha proverbial distracção fez das suas uma noite em que saímos de casa para ir ao cinema. Quando saí, consegui fechar a porta à chave, mas ela permaneceu aberta sem eu dar por isso. Só depois percebi o que se tinha passado: tinha dado duas voltas à chave enquanto a porta não estava devidamente fechada.
Pois a senhora ao chegar a casa, viu minha porta semi aberta, decidiu prendê-la com uma corda para não ficar escancarada e permaneceu de guarda até nós chegarmos do cinema, já passava da meia-noite.
Ora dada a dimensão do favor, mesmo não solicitado, seria difícil negar-me a ficar-lhe com o cão durante umas horas num dia em que ela teve que ir ao velório e funeral de uma familiar alí para os lados de Torres Vedras.
O animal é simpático, brincalhão e…muito activo e de tamanho considerável. A minha cadela gosta de passear, mas é muito calma. Já o cão é demasiado nervoso. Foi devido a esse facto que a minha vizinha me fez o pedido: “Ai veja lá se me pode ficar com o Piruças, se não ele com o síndrome da ausência, ainda me come o sofá. E já é o 3º em 2 anos”. Pois eu comovi-me, e lá fiquei com o Piruças. E como ambos os canídeos gostam de passear e tenho uma daquelas trelas que dá para dois cães, depois do almoço prendi um a cada ponta, e decidi ir até ao Jardim da Estrela.
E lá fomos, só que o cão puxava muito, estava-se mesmo a ver que queria ir a correr, mas eu não o soltei. Só quando chegámos ao jardim. Estou habituado a que a minha dê umas corridinhas, cheire tudo e acabe por vir sentar-se ao pé de mim. Achei que o outro ia brincar com a Pink até se cansar, e acabar por vir com ela e ficar ali calmamente a fazer-lhe companhia..
Qual quê! Foi a minha maior asneira soltá-lo. O cão parecia um atleta de 400 metros barreiras e desatou a correr e saltar sobre os bancos, mesmo os que estavam ocupados. Quando se cansou um bocadinho, decidiu ir até ao pé de um casal de namorados que estava estendido na relva de barriga para baixo muito in love, e meteu o focinho entre as caras dos dois e começou a lamber a rapariga com aquela linguona. O rapaz ficou paralisado a olhar e a mocinha ficou muito atrapalhada, mas acabou por achar graça e começou a rir-se. Não o devia ter feito. O Piruças deve ter pensado:”Ai! Gostas da brincadeira?” e largou-lhe a cara mas agarrou-se-lhe ao rabo e desatou a mordiscar-lho. Não sei se o namorado lhe costumava fazer aquilo, mas o que é certo é que a rapariga cada vez ria mais: “Ai! Ui! Ahahaha! Ai! Ui!Ahahaha!”. Por fim, e a muito custo, consegui puxar-lhe pela coleira, e um bocado atrapalhado, pedi desculpa. O que me valeu foi que a rapariga era muito simpática e disse que não tinha importância, ainda no meio de uns risisnhos. Já o namorado não me pareceu muito satisfeito.
O problema continuou, porque quando lhe estava a meter a trela, o safado conseguiu escapulir-se, e continuou a fazer os 400 metros barreiras. Como vi que não havia nada a fazer, sentei-me à espera que ele se cansasse e com a minha cadela ao lado, que parecia também muito espantada com a pujança do seu companheiro de trela.
Ora às tantas, o Piruças deu com um jardineiro de cócoras a ligar a mangueira a uma boca de água. Não sei se as correrias lhe toldaram a visão porque o deve ter confundido com o toco de uma árvore, e chegou-se junto do homem, levantou uma perna e desatou a mijar-lhe para cima. Bem! O homem nem queria acreditar. Mas lá reagiu, começou a gritar com o cão e desatou a correr atrás dele, que para meu desconforto, veio direito a mim. Quando o jardineiro passa por mim e me vê de trela na mão, muito vermelho, gritou-me: “O cabrão do cão é seu?”. Claro que eu estava um bocado enrascado, mas respondi-lhe que não. “Então e a trela? O sacana do cão mijou-me para cima, ouviu?” diz ele. E aqui achei que me ia dar um enxerto. Virei-me para o lado e disse-lhe: “É aqui da minha cadela”. Que por acaso estava muito sossegada a assitir a tudo e eu juro que parecia mesmo que a Pink estava com um sorriso divertido e como quem diz:”Estás aqui, estás a levar uma mocada”. Mas o homem acreditou, lá acalmou até porque o Piruças já tinha desaparecido de vista, e ele deve ter pensado que não adiantava nada estar-se a chatear mais.
Peguei na cadela, e fui dar uma volta para ver se via o cão. Se o perdia, ia ser uma grande barraca para contar á minha vizinha que lhe tinha deixado escapulir o cão. Mas não, às tantas lá apareceu o desgraçado de rabo alçado e todo satisfeito, como se não fosse nada com ele. Consegui meter-lhe a trela e decidi vir-me embora. Afinal, tudo estava quando acabava em bem.
Vinham os dois canídeos de língua de fora quando passámos por uma nascente de água e eles foram os dois lá matar a sede. Só que o Piruças achou que a água não era suficiente para o refrescar, e resolveu rebolar-se numa poça de lama que se tinha formado ao lado. Bem! Eu nem queria acreditar. Era lama para todos os lados. Lá o consegui tirar e fui para casa a dizer para comigo: “A primeira coisa a fazer é dar-te um grande banho, meu safado, senão vais-me cagar a casa toda”.
Cheguei, e nem o deixei entrar. E ali ficou à porta, até eu acabar de lhe preparar o banho. Fui então buscá-lo, à custa de grande esforço consegui arrastá-lo até à banheira, e aí deparei com um problema com que eu não contava. O sacana do cão, água só para beber. Quem é que dizia que eu conseguia metê-lo no banho? Além de força, o cão parecia ter ventosas nas patas, e agarrava-se a tudo para não entrar no banho.
O que me valeu é que a vizinha regressou nessa altura, e ouviu o alarido. E disse: “Há problema? E o Piruçsa? Portou-se bem, o meu fofinho?”. E eu respondi-lhe: “Maravilhosamente! Agora chegue mas é cá, para ver se nos consegue ajudar a metê-lo na banheira!”.
Podem não acreditar, mas quando ela viu o espectáculo ainda se começou a rir e disse: “Ai o meu Piruças! O meu lindinho tão sujinho, sempre tão brincalhão, tão boa companhia! Aposto que o vizinho passou um dia muito divertido com o meu fofinho, não passou?” E respondi-lhe:
À brava! Nem imagina. Irrepetível, espero eu”, a pensar ainda na carga de porrada que podia ter levado do jardineiro.
Só espero que ela tenha interiorizado que o favor estava pago e com juros (sim, porque não sei se teria sido pior que a minha casa tivesse sido pilhada, do que aquela tarde), e que nunca mais me peça para ficar com o Piruças.
Pelo sim, pelo não, se souber antecipadamente que lhe morreu alguém da família, vou-me imediatamente ausentar para parte incerta.

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