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06 maio 2015

O IMPEACHMENT SILENCIOSO E REAL // EDUARDO GRAEFF - ESTADÃO

O impeachment silencioso

Dilma Rousseff "está numa armadilha", diagnosticou FHC à Folha (26/3).
"Ela não tem o que fazer. O que tinha, já fez: nomeou o Levy.
E isso só aumenta a armadilha, porque agora ela não pode demitir. É refém dele." O diagnóstico está certo, mas ilumina só um terço do cenário.

A presidente é refém, igualmente, do PMDB (de fato, do trio RenanCalheiros/Eduardo Cunha/Michel Temer) edo lulopetismo (de fato, de Lula e dos movimentos sociais que operam ao redor dele).

Numa entrevista ao "Estadão", Eduardo Graeff explicou que o governo Dilma "chegou ao fim".

É verdade: imobilizada na armadilha triangular, sem "credibilidade" nem "capacidade de ação política" (FHC), Dilma reduziu-se a "uma assombração política" (Graeff).


Já aconteceu um impeachment tácito, informal.

Levy é proprietário da credibilidade econômica.
O ministro funciona como uma delgada película que separa a economia de um catastrófico rebaixamento pelas agências de rating.
Dilma não pode demiti-lo pois, sem a promessa do ajuste fiscal que ele personifica, o país seria tragado no vórtice da fuga de capitais. Mas, como registrou FHC, "a racionalidade econômica pura esmaga tudo" --ainda mais, acrescente-se, quando essa "racionalidade" está contaminada pelo dogma ideológico do equilíbrio fiscal a qualquer custo.
O ajuste sem reformas estruturais de Levy, complemento simétrico da farra fiscal de Mantega, não serve ao país, mas conserva no Planalto a "assombração" de uma presidente sem poder.
O trio peemedebista é proprietário da maioria no Congresso, que hoje se forma pela oscilação do PMDB entre o governo e a oposição.
Dilma não pode confrontá-los, pois eles empunham o sabre do impeachment formal e o fazem girar, sadicamente, em torno do pescoço da presidente.
O jogo da chantagem, uma norma do nosso doentio "presidencialismo de coalizão", atinge níveis agônicos. Os chefões do PMDB utilizam esse poder extraordinário em nome dos seus próprios interesses, desenhando a reforma política que lhes convêm e articulando com o governo os acordos de leniência destinados a resgatar as empreiteiras do "petrolão".
Lula, com seu cortejo de movimentos sociais (CUT, a UNE, o MST), é proprietário da sustentação partidária de Dilma.O candidato declarado às eleições de 2018 pode cortar, num momento conveniente, o tubo do regulador que ainda fornece ar comprimido ao fantasma do Planalto.
Os andrajos da autonomia da presidente, que atendem pelos nomes de Aloizio Mercadante, Miguel Rossetto e Pepe Vargas, já foram descartados no cesto de roupa suja.
Nas ruas, dia 7, repetindo o dia 13, o "exército" de Lula, força mercenária em declínio, não oferecerá um contraponto impossível às manifestações anti-Dilma, mas cobrará novos gestos de submissão da "companheira". Eles exigem iniciativas simbólicas (e verbas publicitárias sonantes), destinadas a compensar a militância pela dores do apoio ao ajuste fiscal.


FHC confrontou o conjunto da elite política ao estabelecer a Lei de Responsabilidade Fiscal.
No seu primeiro mandato, Lula confrontou o PT ao conservar o tripé da estabilidade macroeconômica herdado de seu antecessor.

Capturada na teia da mentira, Dilma perdeu a legitimidade concedida pelos eleitores.
Sem o rito da denúncia, processo e julgamento, a presidente sofreu um impeachment silencioso.
Assombrado pela figura errante da presidente destituída, o Planalto está entregue ao triângulo de beneficiários do impeachment silencioso, que agem em direções diferentes, sob motivações distintas.
O desgoverno não pode perdurar por quatro anos.

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